No último dia do 3º CBJA, jornalistas chegam a conclusão de que incorporar o olhar ambiental aos demais assuntos é uma forma de abordar a complexidade das relações com o homem com seu meio.
O 3º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, que aconteceu em Cuiabá (MT) entre os dias 18 e 20 de março, tratou no seu último dia sobre a construção da hidrelétrica de Belo Monte. Guilherme Carvalho, educador da Fase Pará, lembrou que a construção da hidrelétrica ignora as considerações do IBAMA sobre a sua viabilidade e que as comunidades indígenas da região de Altamira serão atingidas. Outro grave problema que envolve a construção é a necessidade de um desvio de águas do rio Xingu para Belo Monte, movimentando muita terra, segundo cálculos, mais do que para a construção do Canal do Panamá.
Carvalho avaliou que a única forma de tornar viável a construção é com a criação de uma série de barragens além da de Belo Monte para regular o nível adequado do rio que tem um volume de água insuficiente para a geração de energia, questão que o governo nega. Outro desencontro é em relação ao orçamento da obra, enquanto o governo avalia em 20 bilhões de reais, as empreiteiras calculam que o custo em será de 30 bilhões. Devido a toda polêmica sobre a hidrelétrica, as principais lideranças dos movimentos sociais da região têm sofrido desmoralização pública através da imprensa, ressaltou o educador.
Adriana Ramos, secretária executiva adjunta do Instituto Sócio-Ambiental (ISA), lembrou que a energia que será produzida em Belo Monte não atenderá às necessidades da população de Altamira, mas servirá para ser vendida para outras regiões e para explorar as riquezas locais. Segundo Adriana, a política do BNDES é contraditória, pois financia bilhões para obras polêmicas, embora também faça campanhas para a defesa da Amazônia.
Reflexões sobre o jornalismo ambiental
O congresso terminou com reflexões sobre a sua essência. O financiamento das mídias ambientais foi a última mesa do evento. As dificuldades e os dilemas que envolvem a produção e a difusão de notícias sobre o tema foram apresentadas a partir da experiência dos jornalistas Lauristela Guimarães, criadora da revista Camalote, Carlos Tautz; do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase); e Andréia Fanzeres do portal de notícias Eco.
Os jornalistas concordam que o meio ambiente possibilita muitas matérias, contudo é muito difícil conseguir apoio financeiro para manter os veículos de comunicação especializado em funcionamento. Esta dificuldade é uma reclamação constante dos jornalistas, porque diversos veículos já fecharam suas portas ou tiveram que flexibilizar leis trabalhistas para se manter em atividade. Outro reflexo da questão é o trabalho de forma voluntária dos profissionais de comunicação ou através de parcerias.
As intensas discussões durante os três dias de evento trazem importantes contribuições para o não isolamento do jornalismo ambiental, evitando assim que se torne um gueto dentro das demais editorias. Incorporar o olhar ambiental aos demais assuntos é uma forma de abordar a complexidade das relações com o homem com seu meio.
(Por Raíssa Genro e Danielle Sibonis, EcoAgência, 22/03/2010)