No enteder do editor do caderno de Ciência da Folha de São Paulo, principal desafio na cobertura ambiental é a falta de transversalidade
“Houve uma mudança em termos de desmatamento e isto se deve a gestão ambiental compartilhada no estado”, afirmou Luís Daldegan, engenheiro agrônomo e secretário do Meio Ambiente do Mato Grosso, o primeiro palestrante da mesa redonda que tratou de “Imprensa e desmatamento na Amazônia” no último dia do 3º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, que acontece desde o dia 18 em Cuiabá.
O estado do Mato Grosso tem um dos maiores índices de desmatamento do país, e nos últimos anos, tem conseguido reduzir. O secretário atribui esta mudança à sociedade civil organizada, aos setores de fiscalização e ao poder político que se uniram para mudar a postura ambiental do estado. Daldegan comentou que o que ainda falta para o estado é o zoneamento ecológico. O secretário criticou a cobertura da mídia, pois quando se fala na crise é dada a capa e quando se fala em meio ambiente, não.
Para o jornalista e editor do caderno Ciência da Folha de São Paulo, Claudio Ângelo, a pauta desmatamento deixou de estar relacionada com a crise ambiental. Agora a pauta são as metas de desmatamento. “Mal a imprensa se acostumou a cobrir o tema e ele mudou”, sintetizou Ângelo.
Atualmente, em sua opinião, existe uma grande quantidade de jornalistas habilitados a cobrir essa ciência no país, o que até poucos anos não se podia afirmar. O tema as de meio ambiente e foi parar nas páginas de política e economia, ganhando cada vez mais espaço na mídia. Em relação ao jornal Folha de São Paulo, por exemplo,de 1994 a 2009, passaram de 64 a 648 o número de pautas sobre desmatamento.
"Coisa de índio"
Para Claudio Ângelo, o principal desafio na cobertura ambiental é a falta de transversalidade. Na sua visão a imprensa não conecta os dados e os diversos setores envolvidos. Além disso ainda a pauta ambiental ainda é vista de forma preconceituosa por alguns profissionais “O pessoal que cobre no sudeste, especialmente, não gosta de mato. Mato é coisa de índio e nós não somos índio”, criticou de forma contundente.
Adriana Ramos, secretária executiva adjunta do Instituto Socioambiental (ISA), também palestrante da mesa afirma que “apesar de a grande mídia ter poder para fomentar mudanças socioambientais, ela não propõe mudanças na forma de ver as coisas”. Adriana apontou este como um fator que gera desmobilização na sociedade. A secretária falou da importância do papel do jornalista de traduzir as informações técnicas para a população e de ampliar a consciência política da sociedade sobre o tema.
(Por Danielle Sibonis e Raíssa Genro, EcoAgência, 22/03/2010)