O grupo franco-belga Suez, maior gerador privado de energia do País, começou a discutir com outros interessados em Belo Monte a possibilidade de entrar no leilão. Executivos dos dois consórcios já formados para a disputa ? um liderado pela Camargo Corrêa e pela Odebrecht, e outro reunido em torno da Andrade Gutierrez ? afirmaram ao Estado que o movimento é recente. Segundo eles, os representantes da Suez Energia Renovável disseram que o grupo ainda não decidiu se entra ou não na disputa, mas a intenção é deixar as negociações amarradas, caso a matriz decida entrar no leilão.
De acordo com os mesmos executivos, a direção do grupo Suez no Brasil seria favorável à participação no projeto e aguardava a publicação do edital de concorrência para discutir o assunto com o comando mundial da empresa. Eles estudam o projeto há muito tempo e montaram uma sala com dezenas de pessoas só para isso na sede brasileira do grupo, no Rio de Janeiro. O Suez já iniciou contato também com fornecedores de equipamento e firmas de projeto.
No plano político, a participação da Suez é uma das esperanças do governo federal para aumentar a competição por Belo Monte. O Planalto queria que o grupo liderasse um novo consórcio, para aumentar a disputa com os outros dois que já se apresentaram. Procurada, a direção da Suez afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que avalia Belo Monte protocolarmente, como faria com qualquer projeto relevante.
Dono da Tractebel no Brasil, o grupo Suez é um dos parceiros mais cobiçados pelos consórcios de Belo Monte. Os outros são o grupo Gerdau e a indústria de alumínio Alcoa, que também vêm discutindo sua possível participação num dos consórcios.
O grupo liderado pela Camargo e pela Odebrecht, que já tem o fundo de pensão Funcef (dos funcionários da Caixa Econômica Federal) e o FI FGTS, fundo que usa recursos do Fundo de Garantia, deverá engordar com a participação da CPFL e talvez da Braskem. A primeira é controlada pela Camargo e a segunda pertence à Odebrecht.
O consórcio liderado pela Andrade Gutierrez já tem a Vale, a Votorantim e a Neoenergia, e discute a entrada de novos parceiros. "Poderemos ter novos parceiros, sim. Estamos abertos a parceiros que agreguem", diz um dos principais executivos desse grupo.
No Brasil desde 1998, a Suez Energia faturou cerca de R$ 3,6 bilhões no ano passado. Tem 19 hidrelétricas em operação e outras 4 em construção. Entre elas, a usina de Jirau, no Rio Madeira, num consórcio liderado por ela, que tem a participação da Camargo Corrêa.
De acordo com empresários do setor, a Suez Energia tem um perfil bastante agressivo. Há anos, ela e a Camargo travaram uma disputa ferrenha contra a Odebrecht, por causa das usinas do Rio Madeira. Seus próximos lances, por isso, são aguardados com ansiedade.
(Por David Friedlander, O Estadao de S.Paulo, 19/03/2010)