A EcoAgência começa hoje a cobertura do 3º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, em Cuiabá (MT). A EcoAgência enviou dois repórtes exclusivos, as jornalistas Raíssa Genro e Danielle Sibones. Acompanhe toda a cobertura aqui.
O professor e pesquisador Wilson da Costa Bueno, ministrou a oficina Jornalismo Ambiental e Agrobusiness nesta manhã durante o primeiro dia do Terceiro Congresso Brasileiro de Jornalismo ambiental, que está acontece até sábado em Cuiabá – Mato Grosso. A oficina foi uma das primeiras atividades do congresso e ocorreu simultaneamente com a oficina Comunicação Ambiental, ministrada por Fabrício Ângelo, da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental.
Wilson começou destacando grandes diferenças na cobertura dos assuntos nas mídias ambientais, pois há utilização de ONGs como fonte. Para o pesquisador seria razoável se os profissionais que cobrem agronegócio também utilizassem essas fontes, e isso é fundamental do ponto de vista democrático. Porém os veículos ambientais encontram grande dificuldade de financiamento. E quando ocorre apoio e financiamento de empresas duvidosas, com ficha suja ou poluidoras, a questão é saber em que medida estas empresas interferem quando financiam essas mídias. Wilson lembrou, inclusive que isso foi uma polêmica no patrocínio de alguns congressos de jornalismo ambiental.
Do ponto de vista de angulação, o jornalismo ambiental e de agrobussines são opostos. Em um olhar mais puro, estas visões são inconciliáveis. “Na prática não é bem assim, e pouco a pouco a pauta da sustentabilidade será incorporada.”, concluiu Wilson.
Para grande parte dos jornalistas, desenvolvimento econômico é aumento do PIB e o jornalismo ambiental vê isso diferente. A mídia tem um papel social de refinar conceitos e evitando equívocos que comprometem a compreensão. Além disso é necessário combater as monoculturas da mente, com uma mentalidade transgênica, não plural.
Wilson destacou também a necessidade de se valorizar o conhecimento tradicional. A agricultura familiar ainda é vista como uma coisa exotérica, diferente e não difundida, quando esta pauta deveria ser abordada como algo comum, pois grande parte dos alimentos são produzidos desta forma. Na cobertura da mídia há uma adesão imediata a tudo que é tecnológico, como se fossem a solução para todos os problemas. Os transgênicos, novos equipamentos, etc. “Imaginar que a tecnologia é a solução para todos os problemas no mundo é uma coisa louca”, comentou o professor.
Há uma grande necessidade de se firmar uma parceria entre mídia e sociedade civil, qualificando e tornando as fontes acessíveis, contribuindo assim, para o debate sobre assuntos relevantes do setor rural. A produção de trabalhos e pesquisas sobre temas controversos, bem como grupos de discussão precisa ser difundida e incentivada. Para Wilson “o debate precisa ser político, as soluções são políticas como o combate a fome, a reforma agrária. A quem se quer favorecer?”, provoca ele.
(Por Raíssa Genro, EcoAgência, 19/03/2010)