A utilização de recursos hídricos do rio Benevente, em Anchieta, pela Companhia Siderúrgica de Ubu, da Vale, será discutida nesta quarta-feira (17), em sessão especial, no plenário da Assembléia Legislativa. O debate foi proposto pelo deputado Euclério Sampaio (PDT), que questiona a utilização de água pela indústria no momento em que o rio apresenta indisponibilidade hídrica para abastecer os municípios da região. Em alguns trechos, o rio tem apenas 43 centímetros de profundidade.
A reunião, que contará com a presença de ambientalistas, especialistas, técnicos e representantes do poder público estadual, deverá destacar a inviabilidade de abrigar um projeto dessa amplitude em uma região que sofre com problemas como o aumento da demanda de água e do abastecimento público e agrícola. A instalação de uma siderúrgica na região ultrapassaria a capacidade de abastecimento deste recurso, que poderia sofrer um colapso em poucos anos, alertam os ambientalistas.
Foi a indisponibilidade hídrica do rio Benevente uma das principais causas do veto à instalação da siderúrgica da Baosteel na região, no passado. A informação é de que só a CSU irá captar 1,8 milhão de litros de água por hora do já exaurido rio Benevente e mais 4 milhões de litros de água do mar, também por hora, conforme alerta a Associação de Moradores de Jabaquara, bairro cortado pelo rio exatamente no ponto de onde a CSU pretende extrair água.
Este ano, Guarapari e Anchieta ficaram sem água durante os feriados de carnaval. O receio é que, com a utilização de milhões de litros de água pela CSU, essa situação se estenda também para Piúma, Iconha e Alfredo Chaves.
A situação no rio é tão grave que a Cesan chegou a construir duas barragens – sem licença ambiental – , uma para atender Anchieta e a outra para atender Guarapari, em janeiro deste ano. A empresa também dragou o rio para garantir o abastecimento, mas as intervenções não impediram que bairros inteiros ficassem sem água.
Os ambientalistas alertam ainda que a CSU só divulgou o quanto a sua indústria irá consumir de água, mas não informou a quantidade do consumo humano de água em seu complexo siderúrgico. Sabe-se, apenas, que este será feito através da Cesan. Entretanto, sabe-se que a Cesan também terá que aumentar a captação de água do rio caso falte água para a população.
Segundo o Grupo de Apoio ao Meio Ambiente (Gama), a captação de água da CSU será de cerca do dobro da atual captação do Benevente para Guarapari. A instalação da CSU também comprometerá o manguezal e toda a sua biodiversidade associada. A previsão é que a biodiversidade, que depende de uma vazão razoável para sobreviver, também sofra com a falta de água.
Outro problema da captação da água da CSU é que o rio Benevente deságua no mar, justamente em Anchieta, e com o elevado consumo de água, a cunha salina mudará sua dinâmica. “Ou seja, as marés altas vão empurrar a água doce, e subindo o rio irá ultrapassar os dois locais de captação de água em Jabaquara, que atende Guarapari e Anchieta. O que é que vão fazer com a captação de água salinizada?”, questionou Bruno Fernandes, do Gama.
Ao todo, a bacia hidrográfica do Rio Benevente abrange terras dos municípios de Anchieta, Alfredo Chaves, Iconha, Guarapari e Piúma e, há anos, sofre com o desmatamento de suas margens e o despejo de efluentes sem tratamento. A construção da CSU significaria, segundo os ambientalistas, a destruição deste recurso.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 16/03/2010)