A mineradora brasileira Vale está se preparando para acabar com a greve em suas minas de níquel e cobre no Canadá fazendo com que trabalhadores temporários furem o piquete que interrompeu a produção nos últimos oito meses.
A anúncio feito no fim de semana provocou uma resposta irritada por parte dos líderes do sindicato United Steelworkers, que tem mais de 3.100 membros em greve nas fábricas da Vale Inco em Sudburry, Ontário, e numa refinaria próxima a Niagara Falls.
“Sudbury é um barril de pólvora”, disse Wayne Fraser, representante do sindicato. “Estamos de fato preocupados com o que pode acontecer, e a polícia também está. As pessoas ficarão incontroláveis. Elas não permitirão que trabalhadores temporários furem o piquete.” E acrescentou: “A Vale pode ir para o inferno. Estamos cansados de capitalistas estrangeiros que vêm aqui destruir o estilo de vida canadense.”
A Vale disse que já retomou parte das operações com 1.200 trabalhadores que não estão em greve e que usaria os funcionários existentes e trabalhadores temporários para voltar à produção total até o final do segundo trimestre.
A companhia disse que ainda não definiu a data em que os primeiros trabalhadores temporários serão chamados, uma vez que os planos ainda estão sendo elaborados.
“A intenção não é parar a greve e não é esta a mensagem que queremos mandar para o sindicato”, disse um assessor de imprensa em Sudbury.
“Queremos que nossos funcionários voltem ao trabalho. Mas é verdade que até agora nunca havíamos produzido durante uma greve. Precisamos assegurar que nossas operações tenham um futuro a longo prazo e precisamos ir em frente.”
As relações entre a companhia e o sindicato ficaram ainda piores durante a greve, cujo principal motivo foi uma proposta da Vale para alterar o atual sistema de bônus baseado no preço do níquel e mudar os planos de aposentadoria dos funcionários.
O sindicato acusou a Vale de mentir para seus funcionários e acionistas no fim de semana, enquanto a Vale disse que a liderança do sindicato havia sistematicamente interpretado mal suas ofertas aos empregados.
O conflito vem desde o final de 2006, quando a Vale comprou a Inco, a segunda maior mineradora de níquel do mundo, por US$ 17,6 bilhões.
O acordo – que foi a maior aquisição da Vale fora do Brasil – surpreendeu muitos no setor e foi inicialmente prejudicado por conta do choque cultural entre os gerentes brasileiros e canadenses.
Pessoas que conhecem bem a situação disseram que o estilo hierárquico de administração da Vale entrou em choque com a abordagem mais consensual da Inco, enquanto a inesperada compra encontrou resistência e ressentimento por parte da indústria canadense, mais acostumada a adquirir mineradoras brasileiras.
Os problemas administrativos parecem ter sido resolvidos, mas deram lugar aos conflitos com o sindicato.
As conversas em busca de um acordo foram interrompidas em 7 de março com cada um dos lados acusando o outro de intransigência.
No Brasil, a mineradora foi condenada na semana passada a pagar indenizações que somam R$ 300 milhões por supostas irregularidades trabalhistas cometidas contra os funcionários terceirizados que prestam serviço na mina de ferro de Carajás (PA) .
(IHU, MST, 16/03/2010)