Há meses, dezenas de manifestos, textos e grupos de debate criticam a postura ambiental do governo do Estado, “que age em desfavor aos direitos ao meio ambiente, aos direitos humanos, a cultura e a democracia”. A afirmação está no manifesto assinado por Bruno Fernandes, do Grupo de Proteção ao Meio Ambiente (Gama), através de um documento em que ele assume um outro texto que vem circulando na internet.
O texto replicado pelo ambientalistas, circulando na Internet, critica veementemente a postura do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) de ignorar os laudo técnico de seus profissionais contra a instalação do Jurong, diante dos inúmeros impedimentos ambientais e falhas no Estudo de Impacto Ambiental (EIA). A diretora do órgão, Sueli Tonini, não só ignorou o laudo como emitiu uma carta a favor da instalação do empreendimento.
“Para que servem os especialistas, técnicos do governo e seus laudos e pareceres? Para serem desqualificados por políticos e conselhos!”, protesta o texto.
Para os internautas, o desenvolvimento sustentável do Estado passa por cima de leis ambientais, sociais. Entretanto, “o Estado é colocado na mídia local como um dos estados que mais cresce no Brasil. A troco de quê?”, questiona o texto.
Estas manifestações se repetem nos mais diversos emails assinados por ambientalistas, engenheiros, estudantes, biólogos, entre outros. Todos eles foram chamados de “neoambientalistas” por Paulo Hartung, em entrevista ao jornal “A Gazeta”. A reação do governador às críticas à postura de “desenvolvimento” do Estado triplicou as manifestações e fez nascer um movimento em que muitos passaram a se declarar neoambientalistas com orgulho.
Juntos, os integrantes da nova geração de ambientalistas ressaltaram que condicionantes ambientais são utilizadas no Espírito Santo como moedas de troca para a instalação dos empreendimentos; denunciam a falta de democracia em audiências públicas e questionam sobre se o caso da Jurong foi realmente o primeiro em que o Estado ignorou a opinião de seus técnicos para a instalação de um empreendimento.
Os neoambientalistas afirmam que o Estado se coloca aberto para todos os grandes empreendimentos (em sua maioria estrangeiros) ao mesmo tempo em que vende à população que estes trarão empregos, capacitação, impostos e melhoria da qualidade de vida à população.
Entretanto, o que se vê na prática é exatamente o contrário. Em Anchieta, onde a Samarco está instalada há cerca de 30 anos e a Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU), da Vale, pretende se instalar, a situação não é boa.
Os moradores reclamam do aumento da violência; da faltas de vagas em hospitais e escolas e, ainda, que a população só é contratada para cargos com salários baixos, visto que a capacitação prometida à comunidade nunca chegou.
“O resultado disso é a perda de qualidade de vida com o meio ambiente deixado de lado. Enquanto isso, o governador vai ao jornal, mostra-se preocupado com a reclamação da sociedade e apelida de neoambientalistas as pessoas que escrevem e-mails como este”, disse um dos internautas.
O movimento via internet se intensificou no Estado após a autorização de construção do estaleiro da Jurong, no norte do Estado. Entretanto, o meio já vem sendo utilizado há anos como ferramenta de comunicação entre o norte e o sul do Estado, regiões afetadas por grandes projetos instalados no Espírito Santo.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 15/03/2010)