Faltam educação e consciência às pessoas, que continuam a jogar lixo de todos os tipos no chão e também os depositam em lugares indevidos.
A época das chuvas traz preocupações para moradores das grandes cidades. Enchentes, deslizamentos e proliferação de vetores e doenças são consequências que atingem toda a população. Para a pesquisadora Débora Cynamon Kligerman, do Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental da ENSP, uma das principais medidas para amenizar os transtornos causados pelos temporais é melhorar a coleta de lixo.
Segundo Débora, o planejamento moderno das cidades faz com que as águas de chuva escoem mais rapidamente para rios e lagoas. "Antigamente, as ruas não eram asfaltadas. Tinham cobertura de terra ou paralelepípedo. Os rios que cortam as cidades também não tinham paredes de concreto. Por serem superfícies lisas, o asfalto e o concreto não apresentam nenhum obstáculo que retenha o impacto dessa água. O que acontece é que, em casos de chuvas fortes, as águas ganham muita velocidade e chegam mais rápidas e potentes aos recursos hídricos, que, na maioria das vezes, acabam transbordando", explicou.
Débora, que além de pesquisadora também é professora em cursos de especialização e de mestrado da ENSP e de outras instituições de ensino, utiliza diferentes materiais de apoio. Um deles é a Cartilha de Situações Emergenciais e Enchentes da Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil. "Esse material é excelente e mostra uma importante articulação de trabalho. Traz a visão da vigilância ambiental junto com a vigilância epidemiológica", comentou.
Segundo a pesquisadora, outro grande problema é a falta de educação e consciência das pessoas, que continuam a jogar lixo de todos os tipos no chão e também os depositam em lugares indevidos. "Isso gera dois grandes problemas: o entupimento dos canais que escoam as águas aos recursos hídricos e o aumento significativo da proliferação de vetores de doenças". Além dos pequenos lixos, como pedaços de papel, palitos de sorvete e outros que são jogados indiscriminadamente nas ruas e entopem bueiros, existe ainda deficiência na efetiva coleta de lixo nas cidades, principalmente em áreas faveladas.
"Normalmente, nas comunidades, o sistema de coleta não é feito de casa em casa, e sim de ponto em ponto nas caçambas localizadas em áreas estratégicas, pois elas não têm arruamentos e casas definidas. Isso acontece porque o caminhão de coleta não consegue entrar nas ruas e vielas, e a coleta também não é feita a contento. Essas caçambas ficam lotadas, e os moradores começam a deixar o lixo ao entorno das caçambas. A disposição, falta de coleta e destino inadequado do lixo aumentam a proliferação de ratos, baratas e outros vetores. E, depois das chuvas, a principal preocupação é com a leptospirose e o risco de uma epidemia dessa doença", apontou ela.
Como desinfetar a água de uso domiciliar
VOLUME DA ÁGUA DOSAGEM MEDIDA PRÁTICA TEMPO DE CONTATO
1000 litros 100 ml 2 copinhos de café descartáveis 30 minutos
200 litros 15 ml 1 colher de sopa 30 minutos
20 litros 2 ml 1 colher de chá 30 minutos
1 litro 0,05 ml 2 gotas 30 minutos
Alguns fatores para evitar esses problemas são: a ação permanente de controle de vetores, coleta adequada do lixo, uso de proteção individual em situações de risco, como luvas e botas, na limpeza de casas e estabelecimentos depois de enchentes, armazenagem correta de alimentos em locais à prova de roedores, vedação de rachaduras, vãos, frestas e buracos que favoreçam o acesso e a permanência de roedores nas edificações, limpeza e desinfecção da água do domicílio e a armazenagem adequada de entulhos e materiais de construção ou objetos em desuso que possam oferecer abrigo aos roedores. Além disso, o reflorestamento de margens de rios e encostas é essencial no auxílio à retenção da terra e na desaceleração do volume das águas.
Débora lembrou que outro problema que acomete as grandes cidades é a sujeira e o entupimento dos recursos hídricos. "Nos casos de grande volume de chuvas, isso impede o escoamento das águas, o que resulta nas enchentes", explicou. A pesquisadora destacou ainda que existem áreas de inundação, localidades que estão naturalmente abaixo do nível do mar e por isso ficam mais propensas a sofrer com as enchentes, dependendo da capacidade de escoamento do leito dos rios, como é o caso de Acari, Pavuna e também de alguns bairros dos municípios de Duque de Caxias e Nova Iguaçu. "Essas áreas naturais cumprem papel importante no amortecimento e na retenção das águas das enchentes" destacou ela.
(Fiocruz, EcoAgência, 15/03/2010)