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florestas temperadas gestão de florestas públicas
2010-03-11 | Tatianaf

Uma matéria publicada no jornal La Tercera (1) e divulgado no blog mapuche IMC (2) desvenda os resultados de uma pesquisa realizada por cientistas da Universidade Austral de Valdivia em que se relaciona a presença de floresta nativa com maior produção de água.

Conforme descreve o estudo, a maior parte das florestas temperadas da América do Sul encontram-se dentro da Ecoregião de Florestas Tropicais de Valdivia (35-488S) no Chile e nas áreas contíguas da Argentina, e têm sido classificadas entre aquelas de maior prioridade de conservação do mundo inteiro.

Como característica, aponta-se que a maior parte das florestas nativas no Chile é propriedade privada (71% do total). O restante encontra-se em parques nacionais e reservas. As florestas privadas geralmente têm sido apreciadas e usadas para a obtenção de lenha e a produção de madeira (principalmente com programas insustentáveis de extração madeireira) ou como terra para a expansão de outras atividades produtivas: agricultura, pastoreio e plantações comerciais de árvores de rápido crescimento de espécies exóticas (Pinus radiata e Eucalyptus spp). A rápida conversão em plantações florestais [sic] entre 1975 e 2000 resultou em taxas de desmatamento de 4,5% ao ano, nessa área.

A pesquisa ilustra que o escasso estado de conservação das florestas nativas pode ser explicado pela política florestal adotada a partir de 1974 no Chile. Essa política não providenciou incentivos econômicos para o manejo sustentável e a conservação das florestas nativas, pelo contrário, incentivou o uso de verbas públicas para apoiar o estabelecimento das plantações. Isso, junto com a liberalização das exportações e a privatização das plantações e das fábricas de celulose estatais, explica o rápido crescimento da indústria florestal baseada nas plantações, frequentemente considerada como um modelo econômico bem-sucedido em outros países da América Latina e em outros cantos do mundo (Lara and Veblen, 1993; Sedjo et al., 1999; Lara et al., 2006).

Ao tempo que aumentam as plantações florestais, a floresta nativa é degradada ou destruída. Conforme dados fornecidos pelo artigo de La Tercera, “na região de La Araucanía perdem-se anualmente uma média de 2.845 hectares devido a incêndios florestais, enchentes causadas por barragens, desmatamentos ilegais e degradação de florestas. Um cenário melhor, pois segundo a FAO antes de 2000 a perda média anual era de 20 mil hectares. Outras estimativas: entre as regiões V e XII, a perda atinge os 100 mil hectares desde 1995. E um estudo das universidades de Concepción, Austral e Alcalá, da Espanha, afirmou que se perderam 82.131 hectares da vegetação autóctone nas regiões V, VI e metropolitana entre 1975 e 2008, o que equivale a 42,5% do total originário”.

A academia respondeu à perda de floresta nativa tentando demonstrar sua importância como ecossistema, bem como os benefícios que dá direta e indiretamente à sociedade, entre eles o fornecimento de água, tanto em quantidade quanto em qualidade.

No trabalho de pesquisa da Universidade Austral foram feitas “medições diariamente, durante quatro anos, em seis bacias de 140 a 1462 hectares na Cordilheira da Costa, na área de Valdivia. Foram considerados a porcentagem de cobertura de floresta nativa de cada bacia e o coeficiente de escoamento- isto é, a relação entre o caudal e a precipitação anual. E a conclusão foi que os caudais e a produção de água estão correlacionadas com a porcentagem de floresta nativa que cobre as bacias. Em números: um incremento de 10% na cobertura de floresta nativa nas bacias produziria um aumento de 14,1% no caudal de verão”.

“A floresta nativa reduz a velocidade de escoamento, o que permite um recarregamento dos lençóis freáticos e um fluxo lento rumo aos córregos e rios que mantêm os caudais de verão em comparação com terrenos de uso agropecuário e plantações florestais”, explica Antonio Lara, Decano da Universidade Austral e integrante da equipe de pesquisa. A floresta regula o fluxo de água e proporciona equilíbrio.

Por outro lado, o estudo faz referência a pesquisas que apontaram que a transformação de florestas nativas em plantações de rápido crescimento diminui o fluxo dos córregos especialmente no verão. Além disso, estudos sobre o equilíbrio hídrico de jovens plantações de E.globulus e P.radiata no sul e centro do Chile revelaram maior esgotamento das reservas de umidade do solo com árvores mais velhas, bem como um aumento na intercepção do dossel e a evapotranspiração. Adicionalmente, a conversão em plantações levou a uma redução na qualidade da água devido à maior quantidade de sedimentos associados ao desmatamento nas plantações manejadas com rotações de 12 anos para o Eucalyptus spp e de 20 anos para o Pinus radiata.

Assim como apontado no artigo de La Tercera, os resultados acadêmicos confirmam o que as organizações do movimento mapuche e sócio- ambiental vêm apontando há muito: que as plantações de monoculturas de árvores atentam contra o solo e as reservas de água.

Hoje mais do que nunca é necessário cuidar das florestas, que são a base da biodiversidade e do sustento, e da vida não apenas das comunidades que dependem diretamente delas para sobreviverem, mas, também, no longo prazo, da comunidade toda.

(1) “Estudio relaciona presencia de bosque nativo con mayor producción de agua”,
(2) http://aureliennewenmapuche.blogspot.com/2009/12/estudios-relacionan-presencia-de-bosque.html

(Boletim número 151 do Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais, EcoDebate, 10/03/2010)


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