A Mais Indústria de Alimentos afirmou, em carta, que exerce suas atividades baseada em uma política de sustentabilidade; que vem cumprindo o Termo de Compromisso Ambiental (TCA), firmado após a mortandade de peixes no Córrego Rio das Pedras, e que interditou agricultores em Linhares (norte do Estado) por se sentir ameaçada. A intenção da ação, segundo a Sucos Mais, é garantir o exercício de suas atividades e integridade física de seus funcionários.
As afirmações da empresa caíram como uma bomba sobre a comunidade agrícola que vive às margens do Córrego Rio das Pedras, em Linhares. Segundo eles, a Sucos Mais vem se utilizando do apoio do poder público para exercer suas atividades na região, sem qualquer fiscalização séria.
Prova disso é a denúncia feita pelo agricultor Alexandro da Silva Carriço, que é vizinho da empresa. Alexandro relata que dois caminhões são vistos diariamente dentro da empresa coletando efluentes hídricos. Entretanto, ao invés de ser encaminhado para uma Estação de Tratamento de Efluentes (ETE), os resíduos são mais tarde devolvidos para a empresa.
“É a tentativa da empresa de disfarçar o grande volume de efluentes que ela gera. Quando a produção está intensa, distribui os efluentes, parte vai para os dutos e outra parte para os caminhões. Se ela despejar tudo conforme vão produzindo, o mau cheiro é muito grande e a população percebe. Conforme a produção cai, esses efluentes são jogados de volta para a empresa e liberado aos poucos para serem despejados no córrego. Me diz, então, como O TCA pode estar sendo cumprido?”, indagou ele.
O TCA assinado pela Sucos Mais diz respeito a episódio em que centenas de peixes foram encontrados mortos no Córrego Rio das Pedras. Após o fato, foi exigido da empresa que melhorasse seu sistema de tratamento de efluentes. O que, segundo os agricultores da região, não foi feito.
Segundo Alexandro, a Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) da Sucos Mais também não é adequada para o porte industrial dela.
Para Valdo Zanette, que também foi interditado pela Sucos Mais, o que se vê nas afirmações da Sucos Mais é uma tentativa de criminalizar um movimento legítimo, formado por agricultores cansados de sofrer durante oito anos com a contaminação do córrego que abastece suas propriedades, em desacordo com a legislação ambiental e aproveitando o descaso do poder público local.
O que ocorre na região é uma inversão dos papeis. Ao invés de apoiar a comunidade, o poder público se coloca ao dispor da indústria, denunciam.
Segundo a ação de Interdito Proibitório, os agricultores, por exemplo, é que são os acusados de causar moléstia contra a empresa. Já a Sucos Mais radicaliza, e se diz vítima de atos de vandalismo.
Mas, para os agricultores, o vandalismo partiu da própria empresa. “Não houve vandalismo na manifestação contra a poluição da empresa. Foi tudo pacífico, organizado e em nenhum momento ameaçamos entrar na fábrica ou algo assim”, ressaltou Alexandro.
Os agricultores então foram interditados. Já a Sucos Mais está há quatro meses para ser citada devido a ação indenizatória movida pelo agricultor Firmino Zanette. O prazo para a citação neste caso é de no máximo 90 dias.
“Se tem alguém promovendo vandalismo não somos nós. A comunidade vem se manifestando porque não agüenta mais, não invadimos nada. Estamos trabalhando para sustentar nossas famílias na terra nascemos e que há oito anos destrói”, desabafou Valdo Zanette.
Os agricultores aguardam agora manifestação do MPES que recomendou ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) que fizesse testes na água do Córrego em questão. Uma investigação também foi aberta pelo órgão.
Já a Sucos Mais garante estar certa de sua legalidade e de que seus valores e missão são positivos para o planeta e sociedade, ressaltando assim o emprego de 750 pessoas da comunidade do entorno da fábrica.
Mas, para os agricultores, empregar não é o suficiente. Afirmam que a empresa não pode amparar de um lado e destruir do outro.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 10/3/2010)