O terremoto de 8,8 na escala Richter que atingiu a costa oeste do Chile no mês passado não provocou mudanças apenas na vida dos habitantes, mas também no próprio país – e em outros no continente.
Segundo uma análise feita a partir de medições preliminares, toda a cidade de Concepción se deslocou pelo menos 3 metros para o oeste. O fenômeno sísmico foi tão forte que chegou até mesmo a ser sentido em locais distantes, como as Ilhas Malvinas e a cidades no litoral brasileiro, do outro lado do continente.
O estudo foi feito a partir de dados colhidos por pesquisadores de quatro universidades nos Estados Unidos em conjunto com colegas de instituições chilenas. Estima-se que o terremoto tenha sido o quinto mais forte desde que se passou a medir por instrumentos os deslocamentos caudados por abalos sísmicos.
Buenos Aires, segundo a análise, moveu-se cerca de 2,5 centímetros para o oeste, enquanto Santiago, mais próxima do local do evento, deslocou-se quase 30 centímetros para o oeste-sudoeste. As cidades de Valparaíso, no Chile, e Mendoza, na Argentina, também tiveram suas posições alteradas significativamente (13,4 centímetros e 8,8 centímetros, respectivamente).
O epicentro do terremoto ocorreu em uma região na América do Sul que é parte do chamado “anel de fogo”, uma área de grandes estresses sísmicos que circunda o oceano Pacífico. O terremoto no Chile ocorreu em um local onde a placa tecnônica Nazca foi “espremida” junto à adjacente placa sul-americana.
Os pesquisadores deduziram os deslocamentos das cidades ao comparar localizações precisas por meio de GPS obtidas anteriormente com medidas feitas dez dias após o evento. Segundo o Serviço Geológico Norte-Americano, no período houve dezenas de abalos subsequentes, alguns com magnitude superior a 6,0 na escala Richter.
Mike Bevis, professor de ciências da Terra na Universidade do Estado de Ohio, lidera um projeto que desde 1993 tem medido os movimentos na crosta e a deformação nos Andes. O projeto, chamado de Projeto GPS dos Andes Central e do Sul (CAP), pretende triplicar sua atual rede de 25 estações GPS por toda a região estudada.
“A ideia é determinar os deslocamentos que ocorrem durante os terremotos. Ao construir novas estações, o projeto poderá monitorar as deformações pós-sísmicas que continuarão a ocorrer por diversos anos, o que permitirá ampliar o conhecimento atual a respeito da física dos terremotos”, disse Bevis.
Segundo os autores do estudo, o terremoto, apesar de trágico, representa uma oportunidade única para a pesquisa geológica. “O terremoto no Maule [Chile] deverá se tornar um dos mais importantes até hoje estudados, talvez até mesmo o maior. Hoje, dispomos de instrumentos modernos e precisos para avaliar um evento desse tipo e, por ter atingido fortemente um continente, poderemos obter dados muito valiosos das mudanças por ele promovidas”, disse Ben Brooks, da Universidade do Havaí, outro autor do estudo.
Os pesquisadores montaram um mapa que mostra os deslocamentos promovidos pelo terremoto. Imagens e dados estão disponíveis aqui.
(Agência FAPESP, 10/3/2010)