A expectativa é que a produção de celulose chegue em 2020 a 44 milhões de toneladas em todo o País. Em 2009, foram produzidos 14 milhões de toneladas, e o crescimento previsto preocupa ambientalistas e agricultores do Espírito Santo. Ao todo, a ex-Aracruz Celulose (Fibria) possui mais de 250 mil hectares plantados com eucaliptos e mais 86 mil hectares distribuídos em pequenas propriedades agrícolas através do projeto Fomento Florestal em 132 municípios do Estado, Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Com a previsão de crescimento destes plantios, a preocupação é ainda maior. Criado em 1990, como estratégia da empresa para ampliar suas plantações de eucalipto, já que na época era proibida de comprar mais terras, o Fomento Florestal incentivou a migração de centenas de agricultores para a área da monocultura no Estado, gerando prejuízos aos contratados, além de prejudicar a produção de alimentos e degradar o meio ambiente.
A previsão para o País é que surjam 50 mil hectares a mais de terras plantadas com mudas de eucalipto nos próximos dez anos. No Estado, essa expectativa se reflete em pelo menos 10 mil hectares a mais de plantios em pequenas propriedades agrícolas, contribuindo ainda mais para o êxodo rural e para a degradação do meio ambiente.
Só a ex- Aracruz Celulose (atual Fribria), por exemplo, consome quantidade de água equivalente a de 2,5 milhões de habitantes - quase toda a população do Estado. Esses recursos eram antes exauridos do entorno de comunidades indígenas e quilombolas, e com a expansão do fomente, também está faltando água no campo, conforme os dados do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
O fomento florestal é uma alternativa atrativa para a transnacional, porque permite que ela terceirize a atividade e consiga se inserir em regiões de elevada altitude, onde dificilmente compraria terras, pois as suas máquinas de corte só funcionam em terras planas. Na região serrana capixaba, a prática tem se expandido rapidamente nos últimos anos, ocupando não só pequenas áreas, mas propriedades inteiras.
Os planos de expansão da monocultura do eucalipto da ex-Aracruz Celulose e o aumento de produção de celulose em todo o País definitivamente coincidem com a fusão com a Votorantim Celulose e Papel (VCP), que recebeu o nome de Fibria. Com a 4ª usina, e novos investimentos também no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e na Bahia, a Fibria somaria uma capacidade produtiva de 6,7 milhões de toneladas por ano de celulose adicionais.
A empresa também está ampliando seu terminal, projeto Portocel II, com a construção de quatro novos berços, que irão gerar ainda mais prejuízos aos pescadores de Barra do Riacho, em Aracruz. As atividades do primeiro porto já causam prejuízos há mais de 15 anos, devido ao fato de a antiga Aracruz Celulose fechar a foz do rio, impedindo a passagem de pescadores por até 30 dias, para abastecer suas três fábricas. O rio perde força e suas águas não chegam ao mar, impedindo a passagem dos barcos.
A ex-Aracruz Celulose (Fibria) também já confirmou a retomada dos plantios de eucalipto da Veracel 2, mantendo, assim, os planos de ampliação da atividade também no sul da Bahia. Uma joint venture que a empresa mantém com a finlandesa Stora Enso, para dar continuidade ao projeto, a Fibria teve que vender a sua unidade em Gaíba, no Rio Grande do Sul, para a chilena CMPC, por US$ 1,43 bilhão.
A previsão dos ambientalistas com construção da segunda fábrica da Veracel é de uma produção de 1,5 milhão de toneladas por ano de celulose.
A ex-Aracruz Celulose desmatou mais de 50 mil hectares de mata atlântica no Espírito Santo, somente em sua fase de instalação, na ditadura militar. A empresa usa, até hoje, as chamadas capinas químicas – um coquetel de agrotóxicos, com predominância de herbicidas e formicidas – nos eucaliptais. Portanto, dizem os ambientalistas, o anúncio de expansão desta industria e de aumento da produção de celulose em todo o País significa um desastre iminente.
Para preocupar ainda mais, ressaltam eles, uma Política Nacional de Floresta Plantada vem sendo elaborada pelo setor, governo e instituições privadas com a meta de conquistar liderança no mercado externo.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 10/03/2010)