Integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) ocupam, desde o último domingo (7), a hidrelétrica de Manso, em Mato Grosso. Apesar de permanecerem no local, os manifestantes liberaram o acesso às instalações da Usina após o agendamento, para a próxima quinta-feira (11), de uma reunião entre atingidos, Ministério de Minas e Energia e Furnas Centrais Elétricas S/A, empresa administradora da Usina Hidrelétrica de Manso.
De acordo com Paulo Pereira Fernandes, coordenador regional do MAB, cerca de 800 pessoas ocupam as instalações da Usina desde a manhã de domingo para pressionar o cumprimento do Termo de Acordo Global, assinado pela empresa há três anos. O Acordo, que deveria ter sido cumprido "imediatamente", é referente à assistência as 780 famílias atingidas pelo projeto de Furnas.
Mesmo tendo liberado o acesso às instalações da Usina, os manifestantes permanecem no local até estabelecerem um acordo com a empresa, com prazos determinados. "A gente pretende sair de lá só depois que a situação for resolvida", afirma Fernandes.
Segundo o coordenador regional do MAB, caso a reunião de quinta-feira não apresente nenhuma saída concreta, o Movimento voltará a fechar o acesso à Usina. "Nós liberamos hoje o acesso [às instalações da hidrelétrica], mas, se [a reunião] não encaminhar nada, vamos bloquear novamente", adverte.
Fernandes explica que, até agora, Furnas comprou apenas 40% das terras destinadas ao assentamento dos atingidos e, mesmo assim, ainda não realizou nenhuma obra nas áreas. "Colocou 53 famílias e [as] deixou largadas lá", revela. As famílias estão acampadas no local sem acesso a direitos básicos, como infraestrutura adequada e moradia digna. "Elas precisam de qualidade de vida. Nem endereço elas têm", destaca.
A situação não é precária apenas para essas pessoas. De acordo com Fernandes, muitas famílias ainda estão "encostadas esperando as áreas para assentamento". Outras, segundo ele, preferem continuar nas áreas do entorno da Usina, mas, para isso, precisam que a empresa revitalize o local, realizando projetos de desenvolvimento, o que, até agora, não foi feito.
O coordenador comenta ainda que também existem famílias assentadas e que querem a transferência para outras áreas. Isso porque, de acordo com ele, elas foram colocadas em terras improdutivas. "De 80% a 90% da terra é areia", afirma, ressaltando que, para o pequeno agricultor, é muito difícil trabalhar lá. Por conta disso, muitas das pessoas assentadas já abandonaram ou venderam as terras. Segundo ele, das 341 famílias inicialmente assentadas, somente 280 estão no local. "Elas também participam da ocupação e querem novas terras", lembra.
(Por Karol Assunção, Adital, 09/03/2010)