No Brasil, as áreas de florestas plantadas acumularam em 2008 a marca de 6,5 milhões de hectares, 4,26 milhões só com eucalipto. O país possui ainda vantagens em relação aos seus concorrentes: no Brasil uma árvore de eucalipto leva 7 anos para chegar à idade de corte, já no Hemisfério Norte pode demorar entre 20 e 30 anos. Adicionalmente, a produtividade brasileira é superior, o que permitiu exportar no acumulado de 2008 US$ 6,8 bilhões de produtos florestais de áreas plantadas, como celulose, madeira serrada e compensados.
O excelente desempenho no setor florestal é fruto de nossas condições climáticas e da tecnologia desenvolvida pelas empresas e instituições de pesquisa do país. O Brasil é reconhecido mundialmente como um dos líderes no desenvolvimento e aplicação de inovações na área de genética e propagação florestal, notadamente de eucalipto. Uma árvore de crescimento rápido, ampla adaptabilidade e excelente madeira para vários fins industriais, aspectos que muito colaboram para o crescimento contínuo do número de produtores interessados em desenvolver seu cultivo.
Adicionalmente, o Brasil vem se consolidando com ganhos extraordinários em produtividade e qualidade das florestas industriais de eucalipto, por meio da aplicação dos princípios da genética quantitativa aliados a uma revolução nos procedimentos silviculturais, como para a clonagem em larga escala de árvores elite, a exemplo do projeto Genolyptus para mapeamento do genoma do gênero Eucalyptus.
O pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Dário Grattapaglia, esclarece que se espera da genômica um salto equivalente que permitirá, por exemplo, a seleção precisa de clones elite em idade precoce com base na identificação direta da constituição genômica superior para características fisico-químicas da madeira. Isso porque plantações florestais de rápido crescimento constituem um recurso renovável para atender a demanda global crescente por produtos derivados de biomassa le-nhosa. “Nas próximas décadas, produtividades florestais crescentes e refinamentos na qualidade dos produtos de madeira por meio de melhoramento genético, tornar-se-ão cada vez mais estratégicos para os setores industriais de base florestal”, acre-dita o pesquisador.
Visão empreendedora
É por meio da clonagem que o Viveiro Campo Verde vem empreendendo o cultivar de mudas no município de Campo Verde (MT) e a implantação de florestas de eucalipto em estados como o Tocantins. Um negócio iniciado a partir da percepção do pro-blema vivenciado por produtores em não conseguir adquirir muda de qualidade, além de São Paulo e Paraná. Adicionalmente, é perceptível o crescimento contínuo da cultura em áreas onde há um menor volume de florestas plantadas, como as regiões Norte e Centro-Oeste. Um interessante mercado a ser explorado.
No Viveiro Campo Verde trabalha-se com três variedades: H13, I144 e GG100. A produção é iniciada no jardim clonal, onde são coletadas as mudas que, plantadas em estacas abastecidas de substrato (palha de arroz queimada, fibra de coco triturado e vermiculita), são encaminhadas posteriormente para a casa de vegetação. Uma estrutura que, ao concentrar calor (média de 34 ºC) e umidade (média de 95%), proporciona o ambiente ideal para que essas mudas criem raízes. Passados 15 dias, e depois de enraizadas, elas são direcionadas para a casa de sombra, onde passarão por um processo de adaptação ao receber 50% de sol e 50% de sombra. Após cinco dias, essas mudas passam pela última etapa antes de seguirem para o plantio: são colocadas a pleno sol durante cerca de 50 dias, e passam pela chamada etapa de rustificação, em que a muda é preparada fisiologicamente para o plantio.
Sistemas agrossilvipastoris
Já no intuito de propiciar uma ampliação sustentável do uso da terra, pesquisadores comprovam na prática as vantagens da sinergia entre a consorciação de culturas agrícolas e pastagens. Os sistemas mistos de exploração que incluem espécies florestais – em especial o eucalipto – permitem que o solo seja explorado de maneira mais vantajosa, melhorando o seu potencial produtivo e com retorno econômico mais interessante. São os chamados sistemas agrossilvipastoris: ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta).
Mais recentemente, a Embrapa Milho e Sorgo iniciou pesquisas sobre a ILPF. São vários os resultados apontados: melhoria dos ambientes físico, químico e biológico do solo; possibilidade de prosseguimento na produção de grãos ou pastagens com elevação do rendimento; a prática que contribui para ampliar a oferta de madeira com qualidade; e propicia a redução dos custos, devido à associação de atividades, gerando renda adicional aos proprietários e diminuindo a pressão sobre a vegetação nativa.
O sistema ILPF permite assim conciliar preservação ambiental com a ocupação produtiva da propriedade rural, sendo viável tanto em grandes como em pequenas propriedades rurais. E o melhor, contribuindo para obter maior lucratividade aliada à sustentabilidade e menor impacto ambiental. Os pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo e do WWF-Brasil elaboraram um estudo mostrando que, para cada hectare de pastagem degradada recuperado, é possível reduzir 1,8 hectare de desmatamento. Com isso, as árvores colhidas na ILPF, à medida que aumentam a oferta de madeira no mercado, contribuem para reduzir a pressão de desmatamento das florestas acompanhadas de queimadas.
Mercado
O eucalipto é plantado em mais de 100 países tropicais e sub-tropicais, e cumpre um papel essencial de floresta de substituição para a produção de papel, celulose, energia e madeira sólida de forma sustentável. Para Dário Grattapaglia, ainda existem muitos mitos equivocados sobre a planta: “O eu-calipto na verdade tem uma tripla função altamente benéfica para o meio ambiente: sequestra carbono da atmosfera, é fonte eficiente de produção de fibras e bioenergia e contribui para a recuperação de áreas degradadas”.
Equívocos à parte, o Brasil integra suas vantagens competitivas na cultura por meio de suas condições naturais favoráveis, conhecimentos científicos e capacidade empreendedora, o que resulta em um potencial altamente competitivo de crescimento. O Brasil é uma excelente opção para investimentos em ativos florestais, mas carece de políticas específicas para um maior desenvolvimento do setor e a-tração de mais e maiores investimentos. Isso porque ações adversas, como ampliação de restrições para a Reserva Legal e áreas de preservação permanente, acabam por comprometer a melhoria de importantes indicadores, tanto na eucaliptocultura quanto no setor de florestas plantadas como um todo.
No Brasil, segundo a ABRAF (Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas), o setor florestal tem se desenvolvido principalmente com base em investimentos diretos de origem doméstica, embora os investimentos de origem estrangeira venham apresentando crescimento. Para investimentos de curto prazo, a ABRAF espera que a crise financeira mundial não interrompa os investimentos previamente anunciados no setor florestal. Já para investimentos de médio e longo prazo, há a expectativa de implementação de mega-investimentos na silvicultura de florestas plantadas, em especial com eucalipto, e na indústria de base florestal nacional. Esta perspectiva promete elevar os níveis de produção, tanto nas florestas quanto nas transformações industriais, para patamares nunca antes observados.
Um estímulo a mais
A partir de 2006, a Reposição Florestal, criada por meio de um conjunto de ações que nasceram com o Código Florestal (lei de n. 4.771 de 15 de setembro de 1965), deixou de ser simplesmente um mecanismo de produção para sustentar as indústrias e passou a ser um mecanismo de compensação do volume extraído. Mas, como muitos exploradores não tem interesse em replantar o que consomem, ficam em débito com o meio ambiente e com a legislação à medida que extraem madeira. Logo, junto com a obrigatoriedade de replantar o que é consumido, surgiu no mercado uma atividade rentável para o produtor ou empresas que se interessam em plantar floresta: a comercialização do crédito de Reposição Florestal.
O engenheiro sanitarista-ambiental, José Ricardo Brito, explica que o processo de requerer esses créditos é burocrático e demanda ao produtor de eucalipto, por exemplo, a apresentação de documentos como licenciamento ambiental e escritura da propriedade. Exigências que, segundo ele, se apresentam como impasses, já que, em relação ao licenciamento ambiental, não são todas as propriedades que estão aptas a receber esses créditos depois do plantio. Mesmo porque, para obter uma licença ambiental é preciso primeiro reconhecer o título de propriedade da área por meio de um georreferenciamento. “Quando a propriedade já tem esse processo em andamento ou mesmo pronto, há facilidade de se conseguir esses créditos”, revela o engenheiro.
Já em relação às linhas de financiamento para o produtor interessado em iniciar o plantio de eucalipto, José Ricardo dá uma dica: “Hoje junto ao BNDS (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) existem algumas linhas de financiamento do Pacote de Desenvolvimento Sustentável para financiar não só o plantio de eucalipto, mas de biodigestores, cogeração de energia e usinas hidrelétricas (PCHs). Mas, em específico à área florestal, principalmente o Banco do Brasil possui uma linha que é a Linha Florestas, que no Mato Grosso é denominada MT Floresta, mas no Brasil inteiro há esse modal de financiamento. Os bancos que mais estão liberando financiamento nessa área são o Bradesco, o Banco da Amazônia e o Banco do Brasil. Procure o seu gerente e se oriente”. Então, mãos à obra!
Projeto Genolyptus
O ‘Genolyptus’ baseia-se na geração de recursos experimentais e bases de dados genômicos para descobrir, mapear, validar e entender a variação subjacente nos genes e regiões genômicas de importância econômica em Eucalyptus, com evidência no processo de desenvolvimento da madeira e resistência a doenças. Trabalho de mapeamento que, aliado à base de dados de sequenciamento, abre perspectivas concretas para a seleção direta de genes controladores das características de relevância silvicultural e industrial, com um impacto expressivo no processo industrial.
Iniciado em 2002, o ‘Genolyptus’ é uma parceria entre o governo federal, através do Ministério da Ciência e Tecnologia (FINEP- Fundo Setorial Verde Amarelo), o setor acadêmico representado por sete universidades e de pesquisa com diversas unidades da Embrapa, além do setor privado, atualmente, com 14 empresas florestais, 13 brasileiras e uma portuguesa.
Alerta
A recente identificação do percevejo bronzeado (Thaumastocoris peregrinus), inseto nativo da Austrália, em árvores de eucalipto próximo à rodovia BR-277, já no perímetro urbano de Curitiba (PR), levou órgãos, como a Embrapa Florestas, a emitir comunicados de alerta. Isso porque o inseto tem se dispersado rapidamente e pode causar danos em plantios de eucalipto, com reflexos importantes em uma cadeia produtiva responsável pela matéria-prima de diversas indústrias do país: papel e celulose, energia, serraria, entre outros.
O percevejo bronzeado é um inseto sugador que, com sua alimentação, prejudica a capacidade da árvore realizar fotossíntese. E mais, dependendo da densidade populacional, pode desfolhar de forma parcial ou total a árvore, com a possibilidade de levá-la à morte. As folhas ficam com aspecto bronzeado e, progressivamente, o sintoma afeta toda a copa.
Segundo o pesquisador da Embrapa Florestas, Leonardo Barbosa, “estudos sobre esta espécie ainda são bem recentes no Brasil. Os primeiros casos de infestação datam de 2008, no Rio Grande do Sul e São Paulo”. Países como África do Sul, Zimbábue, Argentina e Uruguai também já registraram incidência da praga. Só no Estado de São Paulo, mais de 40 municípios já detectaram o percevejo bronzeado, inclusive em locais com plantios de eucalipto com fins comerciais. E pesquisas indicam que a dispersão do inseto está seguindo o caminho das estradas por onde são transportadas as toras de eucalipto, possibilitando a ampliação do número de locais infestados.
No Brasil, as espécies mais atingidas são o Eucalyptus camaldulensis e os clones híbridos de Eucalyptus urograndis. Um projeto de amplitude nacional, coordenado pelo Ipef (Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais), com a participação da FCA/Unesp, Esalq/USP, Embrapa Florestas e Embrapa Meio Ambiente, começa a estudar a dinâmica da praga e o desenvolvimento de estratégias para seu manejo integrado.(Fonte: Revista Produz, Ed. 43)
(Capital News, 09/03/2010)