Redução no peso das embalagens das latas e no valor pago pelos recicladores obriga informais a juntarem mais unidades

Além da desvalorização do produto no mercado e da redução no peso (a indústria diminuiu a espessura da lâmina de alumínio para aumentar a produção), os catadores enfrentam a concorrência de moradores de rua e dos próprios comerciantes, que estão guardando as latinhas para revender. Em 2008, Romildo Xavier de Freitas, 38 anos, precisava juntar 70 unidades para ganhar R$ 3,40.

- Romaria em busca do metal

Hoje, ele é obrigado a catar de 85 a 90 latinhas para voltar para casa com R$ 1,80. Viúvo e com dois filhos para sustentar, Romildo percorre diariamente os 10,4km da Avenida Assis Brasil em busca do metal. Ontem, por volta das 11h, o carrinho do catador estava vazio.

– Eu levo os filhos no colégio e saio para trabalhar. Volto ao meio-dia e retorno para a rua. Tem dias que chego de noite em casa e ganho apenas R$ 20 – revelou.

- Estoque para abater no custeio

Alexandre Camboim, coordenador da Associação de Trabalhadores em Ofícios Vários, Carroceiros e Catadores de Materiais Reciclados do Estado explica que lancherias, restaurantes e mercados estão segurando as latinhas para revender e abater nos custos.

Segundo o gestor da Polo Ambiental, Leandro Bittencourt Ávila, somente 5% (1,7 mil kg) das 34 toneladas mensais de alumínio que entram na empresa são vendidas pelos catadores de rua.

- Meia maratona por dia e nada no bolso

Duas vezes por dia, o catador Abílio Lopes, 42 anos, sai com o carrinho da Ilha do Pavão, atravessa a Ponte do Guaíba e percorre as ruas do Bairro São Geraldo em busca de latinhas, plástico, vidro e papelão. Somado, o trajeto de ida e volta chega a 21,097km – distância equivalente à meia maratona. O esforço se justifica para sustentar quatro filhos. Mas, dos materiais recicláveis, o que ele menos encontra é alumínio.

– Um saco grande de latinhas dá uns R$ 2 ou R$ 3, mas não vendo no mesmo dia. Deixo acumular para ganhar mais – diz ele.

(Por Eduardo Rodrigues, Diário Gaúcho, 09/03/2010)