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via campesina passivos do agronegócio política do agronegócio
2010-03-09 | Tatianaf

Quatrocentas mulheres indígenas, quilombolas e camponesas ligadas a Via Campesina e o Movimento das Mulheres Camponesas (MMC) saíram em marcha no município de São Mateus, norte do Estado, para protestar contra o agronegócio, a violência contra a mulher e a criminalização dos movimentos sociais. Em Vitória, a manifestação foi apoiada por uma marcha com cerca de 90 mulheres pelo Centro. Foram cobradas políticas públicas para beneficiar as mulheres no campo.

A luta do movimento feminino no campo é antiga e discriminada. E este ano elas mostram que as bandeiras continuam as mesmas. As mulheres do campo no Espírito Santo continuam sofrendo com a ocupação de terras pelos monocultivos, com a criminalização de suas lutas, a violência e a falta de incentivos para produzir alimentos.

As reivindicações são praticamente as mesmas que motivaram o ato de 8 de março de 2006, quando mulheres da Via Campesina ocuparam o viveiro da então Aracruz Celulose (Fibria) em um ato de protesto e foram atacadas pela  mídia na tentativa de criminalização do movimento, classificado ainda como de marionetes dos movimentos sociais.

A tentativa da mídia foi veementemente combatida, no Brasil, por meio de documentos apoiados  por  ONGs de Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Pará, e, no exterior, Equador, Uruguai e Costa Rica, além de sindicalistas, biólogos, pescadores e campesinos, que ressaltaram os prejuízos vividos pela mulher camponesa, ao perder seu espaço no campo. Os documentos alertaram ainda para a tentativa da mídia de distorcer os fatos em favor da empresa.

Na ocasião, as mulheres reclamavam do uso do dinheiro público para financiar a monocultura de eucalipto, que expulsa trabalhadores de suas terras e contribui significativamente para o crescimento dos bolsões de miséria, afirmando que há um aumento de violência e prostituição nas regiões de eucaliptais e fábricas de celulose.

Até agora nada foi feito para mudar este quadro, afirmam as manifestantes sobre a passagem de mais um Dia Internacional da Mulher, neste 8 de março. Segundo elas, os privilégios continuam e é cada vez menor o espaço no campo para as famílias campesinas. Juntas, elas marcharam do Trevo Maria Amélia, em São Mateus, até o centro da cidade, onde realizaram um ato em frente ao Banco do Brasil cobrando incentivos para as mulheres do campo. Com faixas e gritos de ordem a favor da luta camponesa, elas também visitaram a sede da prefeitura do município e da Secretaria municipal de Aagricultura.

O encerramento da manifestação aconteceu em frente à Igreja Velha do município, onde ocorreu a doação de um caminhão de alimentos para famílias de comunidades carentes da região. Cinqüenta mulheres também se encaminharam após a manifestação para doar sangue nos hospitais de São Mateus.

Já em Vitória, o Dia Internacional da Mulher teve ocupação das ruas do Centro de Vitória contra a opressão a que as mulheres são submetidas diariamente, nos âmbitos político, social e econômico. A marcha, que saiu da pracinha de Jucutuquara em direção ao palácio de Anchieta, contou com 50 mulheres divididas em sete alas, cada uma representada por uma cor. Elas se manifestaram pelo fim da violência e do racismo, pela redução da jornada de trabalho, contra a mercantilização do corpo feminino e contra as transnacionais, os latifúndios e a monocultura, e em favor de políticas públicas específicas eficazes.

Elas enfatizaram que a principal conquista das mulheres em um século de lutas foi a saída da esfera privada para a vida pública. No entanto, ainda persistem as desigualdades nas relações em todos os espaços.

“O trabalho das mulheres é desvalorizado monetariamente e a representação feminina nas instâncias de poder ainda é muito pequena”, afirmou Edna Calabrês, do Fórum das Mulheres do Espírito Santo, que ressaltou ser a luta neste dia necessária, porque ainda não foi efetivada a igualdade nas relações entre mulheres e homens.

(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 08/03/2010)


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