Duas usinas previstas há 10 anos no Estado já foram abandonadas e uma ainda pode se concretizar
Anunciadas há 10 anos pelo governo federal, duas das quatro usinas térmicas previstas para o Rio Grande do Sul acabaram sepultadas pela não concretização da chegada de gás natural argentino à região metropolitana de Porto Alegre. Da lista que integrava o Programa Prioritário de Termelétricas, apenas uma saiu do papel. Mesmo assim, começará a gerar energia apenas em meados deste ano, enquanto o cronograma original previa a conclusão em 2003.
Projeto da estatal federal Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE), Candiota 3, no sul do Estado, está na fase final das obras. Movida a carvão, a usina conseguiu se tornar viável a partir da venda da energia em leilão realizado em dezembro de 2005.
Das outras três, a única que ainda tem possibilidade de ser construída é a usina de Seival, também em Candiota. O projeto, originalmente da mineradora Copelmi, foi vendido em 2007 para a Tractebel, do grupo franco-belga Suez. A empresa negocia a comercialização da energia para o Uruguai como forma de executar o empreendimento. Assim como Candiota 3, o combustível de Seival é o carvão mineral fartamente encontrado na região.
Menos sorte tiveram as térmicas que deveriam operar a gás. Prevista para ser construída em Triunfo, a Termogaúcha seria a âncora para tornar possível a construção do gasoduto Uruguaiana-Porto Alegre, que traria gás argentino para o Rio Grande do Sul. Como o país vizinho não tinha oferta suficiente para exportar, o projeto se desfez, apesar de até equipamentos já terem sido adquiridos. Afetada pelo mesmo problema da falta de gás, também não se concretizou a UTE do Sul, do grupo AES, prevista para Montenegro.
– Hoje é difícil contar com o gás argentino – resume Altino Ventura Filho, secretário de Desenvolvimento e Planejamento Energético do Ministério de Minas e Energia.
Como a Argentina enfrenta problemas até de abastecimento interno, Ventura lembra que a inexistência da garantia de oferta, além de tornar inviáveis novos projetos, levou ao fechamento das operações da AES Uruguaiana.
O secretário estadual de Infraestrutura, Daniel Andrade, tem esperança de que a geração a gás no Rio Grande do Sul ganhe impulso com o projeto de uma usina de mil megawatts em Rio Grande, abastecida por um terminal de regaseificação de gás natural liquefeito. Capitaneado pela Gas Energy, o negócio é avaliado em US$ 1,25 bilhão. Mesmo assim, Andrade entende que a centralização da política energética no governo federal dificulta o andamento de projetos de usinas a gás, a carvão e parques eólicos.
– Os Estados deveriam ter autonomia para a realização de leilões regionais de energia – diz Andrade.
(Por Caio Cigana, Zero Hora, 08/03/2010)