Pesquisadores do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh) da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) avaliaram potenciais fatores de risco de exposição ao chumbo em crianças e adolescentes moradores de uma comunidade economicamente desfavorecida no Rio de Janeiro. Os resultados, publicados na revista Ciência & Saúde Coletiva da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), apontaram que os fatores de risco neurológico e cancerígeno foram, respectivamente, 549 e 554 vezes superiores à dose de referência para exposição através das vias oral e respiratória.
“As consequências da exposição ao chumbo a baixas concentrações estão associadas a múltiplas fontes, principalmente emissões industriais. Este metal encontra-se principalmente no ar, poeira doméstica, lixo das ruas, solo, água e alimentos”, afirmam os pesquisadores no artigo. Para o estudo, os pesquisadores avaliaram 64 crianças, com até 16 anos, moradoras de Manguinhos, onde existe alto índice de poluição atmosférica devido à proximidade de vias de trânsito rápido, linha férrea, refinaria e outros setores laborais, como oficinas mecânicas, de lanternagem, pintura, serralherias, soldagens e depósitos de sucatas, além da ausência de área verde.
No artigo, eles explicam que as crianças são mais vulneráveis à exposição ao chumbo do que os adultos, por possuírem processos cinéticos e metabolismos diferenciados. “Os adultos absorvem de 5% a 15% da ingestão de chumbo e usualmente retêm menos do que 5% do que foi absorvido. Crianças apresentam uma absorção maior, sendo descritas faixas de 40% a 50% e 32% de retenção com dietas regulares”, elucidam os pesquisadores. “Como agravante, em geral, as crianças têm o hábito de levar objetos e as mãos à boca, aumentando a ingestão de particulados e poeiras contendo chumbo”. Além disso, a maior parte dos responsáveis pelas crianças consultados (68%) relataram trabalhar ou ter trabalhado em alguma atividade relacionada ao chumbo, o que pode acarretar no aumento dos índices de ingestão infantis, já que podem ter carregado partículas de chumbo para o ambiente doméstico.
Os resultados também indicaram que 5% das crianças avaliadas apresentaram valores de exposição ao chumbo acima de 10mg/dl (média de 11,4mg/dl), valor limite recomendado como indicativo da necessidade de intervenção clínica, e não como um limite de referência para exposição. Os pesquisadores ainda acrescentaram que 40% das crianças verificadas apresentaram valores de chumbo acima do ponto de corte da pesquisa, 6mg/dl.
“Como ponto fundamental, o estudo constitui uma etapa imprescindível para a implantação de um programa preventivo de saúde pública, visando à redução da exposição infantil ao chumbo. A informação dos malefícios do chumbo para a saúde humana, preferencialmente a infantil, assim como orientações sobre medidas de prevenção de tais exposições, devem ser incluídas neste programa, que deve ser abordado em conjunto com ações do Programa da Saúde da Família”, destacam os pesquisadores. “Os resultados do estudo permitirão que as informações obtidas possibilitem conhecer melhor a nossa realidade e, deste modo, subsidiar os órgãos de saúde pública e meio ambiente nas ações de controle e vigilância ambiental integrada realizada de maneira intersetorial, levando ao efetivo controle das fontes de contaminação”.
(Por Renata Moehlecke, Agência Fiocruz de Notícias, EcoAgência, 05/03/2010)