Questionado sobre o tipo de ensino oferecido pela Universidade Federal Indígena, a ser implantada na Terra Indígena (TI) Raposa Serra do Sol, conforme proposta de sua autoria (PL 6825/10), o deputado federal Luciano Castro (PR/RR) disse não haver motivo para preocupação com o choque cultural entre o modelo de educação universitária e os costumes indígenas.
"Os índios de Raposa Serra do Sol são todos aculturados. A grande maioria deles estuda, e, quando querem fazer curso superior, têm que ir para Boa Vista (RR), onde passam uma serie de dificuldades", afirmou o parlamentar.
De acordo com ele, a intenção de criar uma universidade, com campus dentro da comunidade indígena de Cantão, localizada em Raposa Serra do Sol, partiu dos próprios índios. "A ideia não nasceu só de mim, nasceu de um indígena da área de Raposa Serra do Sol, chamado professor Jonas, índio de lá, que já se formou pela Universidade Federal de Roraima. Ele pediu que eu patrocinasse isso", conta Castro.
O deputado acredita que, com a presença de uma universidade dentro da terra indígena, os índios terão oportunidade de ingressar no ensino superior sem, para isso, precisar abandonar o local onde estão acostumados a viver.
Embora o objetivo de se criar a instituição de ensino seja a oferta de formação superior aos índios, qualquer cidadão poderá participar do processo de seleção. "Mas, aí essa pessoa vai ter que morar lá. Então, a universidade estaria mais focada nos índios mesmo, que são os moradores da região. Porque os brancos dificilmente iriam para lá, morar na comunidade", prevê o parlamentar.
Castro ainda explica que seu projeto é autorizativo e, caso aprovado, apenas dará ao Executivo a oportunidade de criar a universidade federal. Depois, caberá ao Ministério da Educação definir como será o funcionamento e quais serão as atribuições da instituição.
Ele afirma que o diálogo com o setor responsável pela Educação, do governo federal, acontecerá durante a tramitação da proposta pelas comissões da Câmara dos Deputados.
Os cursos oferecidos inicialmente pela nova universidade seriam: Zootecnia, Biologia Fluvial, Engenharia Florestal, Medicina, Veterinária, Gestão em Agronegócio e Meio-Ambiente, Engenharia de Pesca, Economia Rural e Engenharia Agrícola.
"São cursos em que eles [os índios] são focados, como desenvolvimento de produção. Mas, vamos esperar discutir com o Ministério da Educação, com os índios, e ainda vai se evoluir muito nisso aí", afirma Castro.
Quanto aos conflitos entre etnias divergentes existente em Raposa Serra do Sol, o deputado diz que a universidade atenderá a essa diversidade. "As etnias, embora às vezes tenham posicionamentos diferentes, têm mais ou menos a mesma visão. Então, é fácil se construir algo com esse entendimento".
(Por Fabíola Munhoz, Amazonia.org.br, 04/03/2010)