Frente à conferencia "técnica" internacional da FAO em Guadalajara, intitulada "Biotecnologias agrícolas nos países em desenvolvimento" se inaugurou ontem (2) a primeira Audiência para apresentar o Caso do Milho Transgênico ante Tribunais internacionais, convocado pela Via Campesina Região América do Norte, a Rede de Defesa do Milho (México), e a Assembleia Nacional de Afetados Ambientais (México), com a participação de 276 pessoas, em sua grande maioria bases e dirigentes das organizações campesinas e indígenas de 19 estados mexicanos, dos Estados Unidos, e do Canadá. A audiência ocorre até hoje, em Guadalajara.

Alberto Gómez, da Via Campesina, expressou que para os povos campesinos e indígenas do México é uma agressão que a FAO venha a promover os transgênicos, enquanto que a contaminação transgênica do milho é "um crime de lesa humanidade". Depois falou Pat Mooney, do Grupo ETC (Canadá), que denunciou que "a contaminação transgênica e as empresas nacionais já contaminaram a FAO e a Organização das Nações Unidas, que também é um crime contra a humanidade". Precisou que o que é "uma crise para a gente - a fome - é vista cinicamente pelas empresas como uma oportunidade para vender novos produtos, como as sementes transgênicas."

Ernesto Ladrón de Guevara, da Unorca, fez uma explanação sobre todas as leis neoliberais de sementes, biossegurança, etc., que "deram resultados pobres ou negativos". Evangelina Robles, do Colectivo Coas, do mesmo modo, explicou como, a partir da assinatura do Tratado de Livre Comércio, se começou a modificar as leis mexicanas, com o fim de "desarticular e privatizar todos os elementos do território indígena e campesino, a terra, a água, o ar, os bosques, a biodiversidade, etc," abrindo caminho aos transgênicos, entre outros males.

Durante a tarde seguiram-se depoimentos de produtores e produtoras indígenas e campesinos. Um companheiro e uma companheira, mixtecos de Oaxaca, contaram como suas sementes de milho tradicionais ficaram contaminados por até três diferentes tipos de transgênicos, mas que desenvolveram suas próprias técnicas de descontaminação, como arrancar as plantas deformadas ou lhe cortar a espiga.

Por sua parte, Eutimio Díaz, Wixarika de Jalisco, afirmou que "para os povos indígenas, o milho é o primeiro, o milho é nosso, e somos parte dele". Comentou que em suas comunidades tomaram a decisão firme de defender seu milho e que, por isso, não se aceita "nenhuma semente do governo porque não se sabe que é".

A companheira Amalia Salas, de Xochimilco, D.F., expressou que "a Mãe Terra está irritadíssima conosco, porque não estamos cuidando dela. "E que, "se não preservamos o milho contra os transgênicos, nossos ancestrais se irritarão conosco".

Participaram da audiência, campesinos, povos indígenas, ativistas, intelectuais, advogados e cientistas que apresentaram seus depoimentos e acusações sobre os impactos gerados pelo milho transgênico.

(Adital, 03/03/2010)