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2010-03-03 | Tatianaf

O conflito entre agricultores e a Suco Mais - adquirida pela multinacional Coca-Cola em 2005 -, em Linhares (norte do Estado), se assemelha em muito ao que estamos acostumados em relação à ex-Aracruz Celulose (Fibria) e os índios e quilombolas. Influência direta na Justiça, que resulta em absurdos como o do interdito proibitório a dez pessoas, pela juíza do município Trícia Navarro Xavier Cabral. Chama atenção, porém, que essa mesma Justiça que impede o livre direito de ir e vir dos cidadãos, está há quatro meses apenas para citar a Suco Mais, em ação indenizatória.

É no mínimo curioso que entre as pessoas proibidas de se aproximar da sede da empresa e até mesmo de falar sobre ela, com pena de multa diária de R$ 10 mil, no caso de descumprimento, esteja Valdo Zanette, filho de Firmino Antônio Zanette, autor da ação indenizatória que se arrasta na Justiça.

Apesar de a ação ter sido protocolada em novembro último, a Suco Mais nem ao menos foi citada. A ação está nas mãos do juiz da 1ª Vara Cível e Comercial de Linhares, Leandro Cunha Bernardes da Silveira. Em questão, a poluição do Córrego Rio das Pedras por efluentes industriais da empresa, que tem causado inúmeros prejuízos aos agricultores. Principalmente à propriedade de Firmino Antônio Zanette, que precisa utilizar carro pipa para irrigar suas plantações.

Enquanto a ação que deveria correr rápido, visto os impactos ambientais e econômicos à região - o que inclui ainda morte de animais - fica empacada, a juíza Trícia Navarro Xavier Cabral, da 2ª Vara Cível e Comercial, determinou a interdição dos agricultores em 11 de fevereiro último, numa inversão de papéis sem precedentes. Assim como também acontece no conflito entre ex-Aracruz Celulose e comunidades impactadas pela monocultura do eucalipto.

Outra coincidência é que, em Linhares, muitos são os relatos de pressão da empresa sobre a população, e até “visitas” de policiais à casa de agricultores, com ameaças de prisão. Situação que virou comum em Conceição da Barra e São Mateus, também no norte do Estado, com a ex-Aracruz, que usa e abusa da Justiça e a polícia, para atingir seus objetivos.

Da mesma maneira, a evidente degradação ambiental causada pela Suco Mais também não foi suficiente para que o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) deixasse de conceder licença para a expansão da empresa, que vai agravar ainda mais a situação. Para tal, o órgão se valeu de estudos realizados pela própria Suco Mais sobre a qualidade da água, obviamente, de isenção suspeita. Ao contrário do documento da empresa, exames encomendados pelos agricultores apontam a presença de metais pesados na água, entre outras substâncias tóxicas.

E, por fim, mais uma semelhança. Os benefícios fiscais concedidos pelo governo do Estado à Suco Mais, como sempre faz com todos os grandes projetos poluidores instalados no Espírito Santo. Neste caso, da Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz) e do Programa de Incentivo ao Investimento do Estado do Espírito Santo (Invest-ES).

O problema registrado no norte do Estado com a Suco Mais não é de hoje. Mas piorou consideravelmente após a compra da empresa pela Coca-Cola. Em se tratando de Espírito Santo, não precisa ser mágico para imaginar o controle que uma multinacional poderosa como esta tem sobre a Justiça, imprensa e políticos. A marca do governo Paulo Hartung (PMDB).

(Por Manaira Medeiros, Século Diário, 03/03/2010)


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