Em sua passagem pela Capital, para conhecer o canteiro de obras do hospital da Restinga e para lançar o Instituto do Cérebro, o ministro conclamou a população a se mobilizar contra a dengue, que deve preocupar até a chegada de uma vacina, em cerca de cinco anos. À tarde, o ministro foi recebido pelo Comitê Editorial da RBS, na sede do grupo e concedeu a seguinte entrevista.
Zero Hora – A dengue está se alastrando pelo Estado, a cada dia mais cidades registram casos da doença. Como está o apoio do governo federal ao RS?
José Gomes Temporão – Esse planejamento contra a dengue vem desde o ano passado, quando aprovamos um protocolo nacional de diretrizes que hoje orienta todo o trabalho de Estados e municípios. Também enviamos para a casa de 300 mil médicos e 300 mil enfermeiros um curso de atualização da doença. Liberamos ainda R$ 1 bilhão, fornecemos larvicida, inseticida, comunicação, mobilização. Na verdade, o que estamos vendo é a dinâmica da doença na prática. Em muitos Estados brasileiros fez muito calor, choveu muito acima do esperado. E o que esperar dessa situação: o tempo de evolução do mosquito foi encurtado de 15 para sete dias. Então, existem fatores climáticos envolvidos, ambientais, educacionais e ambientais. Não dá para inventar nada de novo. Temos que reiterar e fortalecer o que vem sendo feito. Os prefeitos têm de ter clareza de que é importante a limpeza da cidade, a informação tem que chegar à garotada na escola.
ZH – Qual é a situação da dengue no Brasil?
Temporão – A situação é mais preocupante em cinco Estados: Acre, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, onde tivemos um crescimento grande no número de casos. O situação não está fora de controle, pois o problema se concentra em um número pequeno de municípios. Estamos acompanhando diariamente. Ainda é muito cedo para avaliar o que vai acontecer. A condição climática do verão não ajudou no combate ao mosquito. Por outro lado, a boa notícia é que os casos graves e de óbitos se reduziram em relação ao ano passado. Isso significa que Estados e municípios estão conseguindo realizar melhor o atendimento à população.
ZH – Como está o Rio Grande do Sul nesse cenário?
Temporão – Nós estamos acompanhando a situação do Rio Grande do Sul. O secretário Terra (Osmar Terra, da Saúde) e a minha equipe estão em contato o tempo todo. A população tem que se mobilizar. Não tem mágica. Sem mosquito, essa doença não acontece. É impossível imaginar o país sem dengue nos próximos anos. Vamos ter de conviver com essa doença até termos uma vacina.
ZH – E quando teremos a população imunizada?
Temporão – O Brasil está se esforçando para buscar uma vacina. Por que é tão difícil ter uma vacina contra a dengue? Porque o vírus da doença tem quatro subtipos. Então, a vacina tem que proteger contra os quatro. É muito mais complexo produzir uma vacina que proteja contra todos em vez de um tipo só. Então, a Fundação Oswaldo Cruz, em parceria com um laboratório britânico, está erguendo um laboratório para desenvolver uma vacina brasileira contra a dengue. Na melhor das hipóteses teremos essa vacina em cinco anos.
ZH – A vacina é o único caminho para controlar a doença?
Temporão – É o único caminho. Esse mosquito foi erradicado no início dos anos 50 no Brasil, mas depois ele foi reintroduzido. O que vimos nos últimos 30 anos é que ele se espalhou pelo território nacional, está presente em praticamente todos os municípios. Então, a estratégia de erradicação do vetor é quase impossível. A estratégia mais pragmática, mais correta e mais adequada é desenvolver uma vacina.
(Por Maicom Bock, Zero Hora, 03/03/2010)