O folclorista Paixão Côrtes, maior autoridade em tradicionalismo gaúcho, surpreendentemente se colocou contra a Cavalgada do Mar. O fato levou grande parte da Imprensa e da sociedade a encarar com mais seriedade o protesto dos defensores dos animais
Na tarde da última sexta-feira, dia 26 de fevereiro, a Vanguarda Abolicionista tomou parte no protesto contra a Cavalgada do Mar, junto a demais ativistas, protetores e simpatizantes da causa animal. A manifestação, divulgada nos dias anteriores pelos maiores jornais, sites e rádios do Estado, reuniu no Centro de Porto Alegre quase meia centena de participantes, com cartazes e panfletagem. A motivação foi a morte de cavalos na Cavalgada do Mar, evento que acontecia naquela semana no Litoral do RS, com três mil cavalos percorrendo 240 quilômetros pela beira da praia, sob o Sol de fevereiro.
Na Praça da Matriz, situada em frente ao Palácio Piratini, sede do Goverto do Estado, e Assembléia Legilsativa, os manifestantes leram ao megafone a ‘Carta Aberta Aos Gaúchos de Bom Senso’ – assinada por cerca de 30 grupos defensores dos animais – e o artigo ‘Tempo de Matar Cavalos’, do jornalista Juremir Machado da Silva, publicado um dia antes no centenário jornal Correio do Povo. Cópias impressas de ambos os textos foram distribuídas à população. Os maiores veículos da Imprensa gaúcha estiveram no local, fazendo cobertura ao vivo, fotografando, colhendo entrevistas e imagens para os telejornais daquela noite. Representantes de entidades entregaram a Carta Aberta ao Chefe da Casa Civil Adjunto do Governo do Estado do RS, Leonardo Hoff, já que a governadora Yeda Crusius estava ausente.
Na véspera, 25, um debate no programa de televisão ‘Conversas Cruzadas’ da RBS colocou frente a frente dois representantes do tradicionalismo gaúcho e duas defensoras dos animais – a advogada Marcia Suarez e a jornalista Gelcira Teles. A discussão teve nítida vantagem para o lado das ‘animalistas’, os emails de telespectadores criticavam as assim chamadas ‘tradições gaúchas’, e a enquete eletrônica terminou com 61% dos votos pelo fim da Cavalgada do Mar.
Uma idosa que passou pela Praça da Matriz na hora do protesto, contou que chegou a participar da cavalgada no passado, mas depois de ver um cavalo sendo morto a pauladas, abandonou o evento, junto com o marido. No site RS Urgente, Edson Rodrigues relata o que viu em uma Cavalgada do Mar de dez anos atrás. “Dentre as maiores barbaridades que os tais tradicionalistas fizeram foi um churrasco na raiz de uma figueira centenária, dentro da Reserva do Taim. Uma das brincadeiras que presenciei foi a castração de um cachorro com uma faca de churrasco, vindo a morrer no dia seguinte. Em determinada fazenda que pararam, colocaram dois cavalos a brigar dentro de uma mini-cocheira por uma égua, uma das cenas mais violentas que ja vi, rinha de cavalo”.
‘O Laçador’ também está contra a Cavalgada do Mar
O folclorista Paixão Côrtes, maior autoridade em tradicionalismo gaúcho, surpreendentemente se colocou contra a Cavalgada do Mar. O fato levou grande parte da Imprensa e da sociedade a encarar com mais seriedade o protesto dos defensores dos animais, já que até então a reclamação principal eram as 500 toneladas de esterco espalhadas entre os banhistas. Que, por lei, não podem levar animais de estimação para a areia, justamente por causa das fezes.
“Não vejo razão de ser nessas cavalgadas. É simplesmente uma caminhada a cavalo. Não há pesquisa nem serve para questionar os problemas do Rio Grande. É um passeio. É comer, beber e dar risada”, decretou. Paixão Côrtes foi modelo para o ‘Laçador’, estátua-símbolo do Rio Grande do Sul e cartão-postal da Capital gaúcha.
Outra personalidade de renome dentro do tradicionalismo, a cantora Maria Luiza Benitez divulgou em seu site pessoal o protesto contra a Cavalgada do Mar. “Bueno, os tempos mudaram, mas os cavalos… esses são dignos do respeito e carinho”, comentou a musa nativista.
Já o presidente da Fundação Cultural Cavalgada do Mar, Vilmar Romera, indignado com o protesto pelo fim do evento que promove, deixou claro no site ClicRBS seu pensamento preconceituoso. “É o fim da picada! Vamos agora largar as cavalgadas de mão e dançar no balé de Bolshoi!”. Em entrevista ao jornal Zero Hora, reafirmou o discurso. “Que culpa eu tenho se tu matas o teu cavalo? Se morrerem 15 cavalos, não tenho nada com isso. Esse é um problema do dono do cavalo. É como mulher. Se tu não tratares bem, vais levar guampa”. Detalhe – o lema da cavalgada deste ano era ‘Mulheres a Cavalo pelo Rio Grande’.
(Por Marcio de Almeida Bueno, ANDA, EcoAgência, 01/03/2010)