A confirmação de 711 mortos e um número incontável de feridos. Saques a supermercados e farmácias em diversas cidades onde a população ficou sem acesso a gêneros de primeira necessidade. Ameaça de desabastecimento de combustível na capital, Santiago. Esse era o cenário do Chile ontem, após o terremoto de 8,8 graus na escala Richter que atingiu o país na madrugada de sábado.
A presidente, Michelle Bachelet, enviou o Exército para controlar os distúrbios nas áreas mais afetadas e decretou estado de "exceção constitucional por catástrofe" em Maule (que contabiliza 541 mortos, sendo 356 na cidade de Constitución) e Bío Bío, onde se localiza Concepción. Esta está sob o comando das Forças Armadas e com toque de recolher instaurado, depois que a administração local alertou que a situação estava "saindo do controle".
O governo fez acordo com cadeias de supermercados para a distribuição gratuita de água e outros gêneros de primeira necessidade, na tentativa de evitar saques. Há relatos, porém, de que aproveitadores invadem supermercados para roubar outros tipos de produtos.
O Ministério da Defesa admitiu ontem um erro na administração da tragédia, quando descartou a possibilidade de tsunami na costa sul. Ondas gigantes atingiram as regiões de Maule e Bío Bío. Fora do Chile, não foram registradas mortes ou danos graves provocados pelas ondas das áreas do Pacífico onde foram emitidos alertas.
Bachelet -que ontem se encontrou com o presidente eleito, Sebastián Piñera- afirmou que "o passar das horas" revelou que o país está "diante de uma catástrofe de dimensões impensáveis" e que serão necessários "gigantescos esforços" para a recuperação dos danos. O governo centralizou esforços em normalizar as estradas, com pontes provisórias para substituir as que ruíram.
O aeroporto internacional de Santiago, fechado desde sábado, autorizou excepcionalmente alguns pousos. Prevê-se para a manhã de hoje a divulgação da data em que o funcionamento será regularizado. Na tentativa de voltar para casa, cerca de 300 brasileiros recorreram à Embaixada do Brasil em Santiago no fim de semana. Segundo a equipe consular, "a principal demanda é o "Me tira daqui!", impossível de ser atendida no momento, com o aeroporto fechado".
Ao longo do dia de ontem, foram registradas mais de cem réplicas do terremoto em todo o país. Às 8h26, Santiago sentiu sua réplica mais intensa -6,1 graus na escala Richter. Mas os habitantes da capital reagiram com calma. "A história nos mostra que, depois de um grande terremoto, as réplicas são de menor intensidade", diz o taxista Fernando Sepúlveda.
Com a gasolina escasseando nos postos, enormes filas de carros em frente às bandeiras com bombas ainda cheias foram a cena mais repetida do trajeto. As duas principais refinarias do país se encontram em áreas muito afetadas, o que dificulta o transporte do combustível até a capital. Ontem, o serviço de metrô permanecia quase totalmente suspenso.
As cicatrizes do tremor em Santiago, porém, são ínfimas diante da magnitude do abalo. Estão interditadas calçadas em frente a igrejas e prédios cujas cúpulas ameaçam desabar parcialmente. Mas a maioria das construções parece intacta.
(Por Silvana Arantes, Folha de S. Paulo, 01/03/2010)