Marcus Eriksen e Anna Cummins mostram que a poluição oceânica por plástico não está confinada a uma única mancha.
Fornecendo mais provas de que o lixo plástico flutuante não está confinado em uma única mancha, pesquisadores marinhos encontram abundância de poluição por plástico em cada amostra de água do oceano que eles recolheram na primeira travessia transatlântica desse tipo. Contornando um furacão, que causou ondas monstruosas equivalentes a três andares de altura, Marcus Eriksen e Anna Cummins do Projeto 5 Giros (5 Gyres Project) encontraram fragmentos de plásticos iguais a confete assim como escovas de dente, tampas de garrafas e isqueiros em sua velejada de 3.000 milhas através do Mar de Sargaço – uma região do Atlântico Norte cuja metade oriental nunca foi investigada sobre a poluição por plásticos. A travessia do casal lançou o primeiro estudo global de poluição marinha por plásticos, a qual tem sido largamente conhecida como prevalecente no Pacífico Norte, a “Grande Mancha de Lixo do Pacífico”.
“Encontramos a Grande Mancha de Lixo do Atlântico”, disse Cummins, que dia 14 de março realizará uma palestra sobre a viagem com Eriksen no Museu Americano de História Natural de Nova Iorque. “Nosso trabalho agora é mostrar às pessoas que a poluição de plásticos no oceano é um problema global – que isto não está, infelizmente, confinado a uma única mancha.”
O Projeto 5 Giros, uma colaboração da Fundação Algalita de Pesquisa Marinha (AMRF), Livable Legacy e a Pangaea Explorations, é uma tentativa de descobrir se a poluição por plásticos existe globalmente, em todos os cinco giros do mundo. Um giro é um vórtice de correntes oceânicas onde os detritos flutuantes tendem a acumular. Os giros existem no Pacífico Norte e Sul, no Atlântico Norte e Sul e no Oceano Índico.
Cummins e Eriksen, recém casados de Santa Monica, CA, içaram velas em St. Thomas, nas Ilhas Virgens (EUA), em 7 de janeiro último, chegando aos Açores 28 dias mais tarde, após uma parada nas Bermudas. A bordo do veleiro de regatas o Sea Dragon, com 9 outros tripulantes, cruzaram o centro do Giro do Atlântico Norte, puxando uma rede de arrasto cheia de plásticos, a cada uma das 35 vezes que lançaram o equipamento científico na água para coletar amostras.
Num determinado ponto, eles rodearam as bordas de um furacão com ventos de 60 milhas por hora e ondas maiores do que o equivalente a três andares de altura. “Eu nunca tinha visto um mar tão grande,” disse Eriksen, um veterano da Guerra do Golfo que já velejou o Giro do Pacífico Norte, em 2008, na JUNK, uma balsa feita com 15.000 garrafas de plástico. “Felizmente, na maioria, as ondas maiores rolaram sob nosso barco, mas muitas delas tentaram nos varrer para fora.”
Os pesquisadores examinarão os peixes coletados no mar para descobrir se seus estômagos estão cheios de plásticos, como aqueles que eles coletaram no Pacífico com a AMRF. As condições de tempo e das ondas impediram que eles juntassem peixes o suficiente para determinar se humanos estão ingerindo DDT, PCBs e outras toxinas encontradas em partículas de plásticos consumidas pelos peixes, mas eles esperam responder esta pergunta com viagens através do Giro do Atlântico Sul, em novembro, e no Giro do Pacífico Sul, na próxima primavera.
Ainda, muitos pedaços de detritos de plástico que o casal coletou haviam sido roídos, provavelmente por peixes. Eles também encontraram um triggerfish (Peixe-Porco ou Peroá) encurralado dentro de um balde de plástico. Eles supõem que o peixe nadou para dentro do balde e, ao crescer, ficou muito grande para sair, ou virar-se. “Ele estava passando sua vida olhando para o fundo do baldo” disse Eriksen.
Eriksen e Cummins se apresentarão no Encontro de Jovens sobre lixo plástico em Los Angeles, na próxima primavera, com uma concessão US$100.000 da Disney Corp. recentemente franqueada para a AMRF. O casal espera agrupar jovens líderes ao redor do mundo para compartilharem idéias, apresentarem projetos e construir uma rede de articulação de jovens.
Eles retornarão para Santa Monica no final de fevereiro, após apresentarem suas descobertas na 2010 Ocean Sciences Meeting em Portland, OR em 24 de fevereiro. Fotos com alta definição de Cummins e Eriksen a bordo do Sea Dragon, peixes e detritos de plásticos que eles coletaram estão disponíveis aqui. Email zan@zdscommunications.com para cópias de fotos antigas de alta resolução do Sea Dragon, de fotos de partículas de plásticos tiradas do estômago de peixes e da expedição JUNKraft 2008.
Projeto
O Projeto 5 Giros empresta equipamentos de pesquisa para outros velejadores para coleta de amostras. Atualmente, cinco outros equipamentos de arrasto estão sendo lançados por “cientistas cidadãos” velejando no Oceano Antártico, em torno do Cabo Verde, da África, no Havaí e em outros lugares.
A poluição do mar por plásticos não pode ser limpa por nenhum meio prático, por isso a sociedade deve parar o problema na sua fonte, realçam Cummins e Eriksen. Eles advogam que a legislação deve requerer das empresas a responsabilidade pelo resgate e reutilização de seus produtos, incluindo incentivos econômicos para promover o resgate e extinção de produtos descartáveis não reutilizáveis. A legislação responsável criará também uma tremenda oportunidade para produtos inteligentes e inovadores.
“Não podemos reciclar a nossa saída desta sujeira, nem limpar o que já está lá fora,” diz Eriksen. “Não estamos olhando para uma acumulação de pedaços enormes de plástico, mas para uma fina e difusa sopa de micro partículas.”
Embora os efeitos potenciais do lixo plástico marinho sobre a saúde humana continuem desconhecidos, cientistas já documentaram que próximo da metade de todas as espécies de pássaros marinhos, todas as espécies de tartarugas marinhas e 22 espécies de mamíferos marinhos já foram prejudicadas ou mortas pelo lixo plástico, seja pela ingestão, enredamento ou estrangulamento.
A lista de espécies de peixes que ingerem toxinas transportadas por fragmentos de plástico está crescendo. A AMRF, onde Eriksen é diretor do programa de desenvolvimento, identificou oito dessas espécies em 2008.
Na última primavera, Cummins e Eriksen completaram um tour de bicicleta de 2.000 milhas para aumentar a conscientização sobre o problema no Giro do Pacífico Norte. Eles estenderão a travessia do Atlântico Sul com um projeto de conscientização pública de duração de um ano chamado “O Último Canudo.” O projeto incluirá um tour de palestras por 2.000 milhas na Costa Leste e a construção, em Paris, de um barco com um milhão de canudos de plástico. Neste barco, chamado de “STRA”, em homenagem às expedições RA realizadas por Thor Heyerdahl, eles velejarão o Rio Sena e atravessarão o Canal Inglês, ou Canal da Mancha.
O patrocinador do Projeto 5 Giro é a Blue Turtle uma organização, baseada em San Francisco, EUA, que busca soluções duradouras e completas para os oceanos poluídos ao redor do mundo através da educação, fontes de eliminação e limpeza. A Pangaea Explorations, outro patrocinador importante e proprietária do Sea Dragon, é dedicada a descobrir bases verdadeiras sobre o meio ambiente, o engajamento de pessoas em questões ambientais e a educar a próxima geração a respeitar e proteger o seu meio ambiente.
Patrocínios chaves adicionais são fornecidos por Ecousable, Fundação Quiksilver, Surfrider Foundation, Keen Footwear, Patagonia e Aquapac.
(Por Anna Cummins, Projeto 5 Giros, Global Garbage, Tradução de Luís Peazê, EcoAgência, 01/03/2010)