O apoio a biotecnologias agrícolas e a sua utilização será o tema central da "Conferência Técnica Internacional sobre Biotecnologias agrícolas nos países em desenvolvimento", que acontecerá a partir desta segunda-feira (01/03) até quinta-feira (04/03), em Guadalajara, no México. O evento foi convocado pela Organização das Nações Unidas para a agricultura (FAO, por sua sigla em inglês) e está despertando o descontentamento de entidades nacionais e internacionais, sob o argumento de que a real intenção do evento é incentivar o cultivo de organismos geneticamente modificados (OGM).
Após a divulgação da Conferência e do claro posicionamento de apoio à indústria biotecnológica, cerca de 100 entidades enviaram uma carta aos diretores da FAO questionando o papel da organização ao convocar, junto ao governo mexicano, uma conferência de apoio à disseminação dos transgênicos logo após o México ter liberado a plantação experimental de milho transgênico.
Em comunicado oficial sobre o encontro, a FAO justifica o uso das biotecnologias agrícolas - nas quais os OGM estão incluídos - como uma saída à fome e à escassez de alimentos, sobretudo nos países em desenvolvimento, onde esta problemática é mais aguda. A utilização das biotecnologias também é colocada pela organização como uma solução às mudanças climáticas que estão afetando fortemente toda a Terra. Ainda no comunicado, a organização lamenta que o debate público sobre as biotecnologias tenha centrado as atenções apenas nos OGM e se descuidado de outras que "podem ser de grande relevância para a alimentação e a agricultura de países em desenvolvimento".
Em contrapartida a esta argumentação, as entidades afirmam na carta que uma pesquisa co-patrocinada pela FAO desmente e conclui justamente o contrário.
"A Avaliação Internacional do Conhecimento, Ciência e Tecnologia no Desenvolvimento Agrícola (IAASTD), (...) concluiu que os cultivos de transgênicos não significam uma contribuição substancial à solução dos problemas fundamentais que a agricultura enfrenta hoje em dia. Pelo contrário, a engenharia científica é uma tecnologia que gerará problemas, uma distração, custosa e arriscada que se distancia de soluções reais do problema da fome, da pobreza e dos desafios iminentes ante as mudanças climáticas".
A carta também chama o governo mexicano a proibir a plantação e importação de milho transgênico para proteger o centro de origem do grão e faz sugestões de medidas realmente eficazes para reduzir a fome e proteger o planeta."Um aumento no financiamento às soluções que brindam a agricultura sustentável e/ou agroecológica, que contribuem com a reparação dos ecossistemas degradados, com a adaptação e a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, é o caminho a seguir".
Com a finalidade de negar todas as justificativas da FAO, esclarecer a real intenção da organização de incentivar o uso de transgênicos mesmo sem antes questionar seus efeitos negativos e fortalecer medidas concretas para salvar o planeta das mudanças climáticas e da fome, as entidades do estado de Jalisco, no México, e demais associadas à campanha "Sin maíz no hay país" realizarão o "Fórum Alternativo e cultural. Transgênicos? Não, obrigado".
O evento acontecerá simultaneamente à Conferência sobre Biotecnologias e contará com especialistas que demonstrarão os efeitos negativos dos OGM. Entre os convidados está Miguel Altieri, especialista em agroecologia da Universidade da Califórnia, além de representantes do Peru e da África do Sul que apresentarão experiências sem sucesso de uso do milho transgênico em suas regiões. Também estarão presentes especialistas do país que falarão sobre os malefícios dos OGM.
(Por Natasha Pitts, Adital, EcoAgência , 26/02/2010)