Após vários impasses, as obras do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira iniciaram, e seus efeitos socioambientais começam a se fazer presentes nas comunidades que vivem na região. É justamente para discutir esses danos que será lançado, amanhã (26), o livro "Conflitos Sociais no Complexo Madeira". O evento acontece, às 18h, na Estação Gasômetro Parque da Residência (Av. Governador Magalhães Barata, 830 - São Braz), em Belém, no Pará.
Organizado pelo antropólogo Alfredo Berno de Almeida, a obra é composta por 22 artigos de 26 pesquisadores de diversas áreas. De acordo com Almeida, o livro é fruto de mais de dois anos de pesquisas realizadas nas comunidades afetadas pelos projetos do Complexo Madeira.
Segundo o antropólogo, já estão sendo construídas duas hidrelétricas (Santo Antonio e Jirau), duas estradas e uma hidrovia. A ideia é que mais duas hidrelétricas ainda sejam construídas na região.
Deslocamentos forçados, conflitos pela posse de terras, massacres, trabalho escravo, desmatamento, pista de pouso clandestina. Essas foram apenas algumas situações encontradas pelos pesquisadores nas áreas percorridas. Para ilustrar esses conflitos, Alfredo de Almeida comenta que um mapa "minucioso" - o qual revelará cartograficamente os conflitos sociais e a localização geográfica das áreas críticas - acompanhará o livro .
Para o pesquisador, a intenção da obra é "mostrar os conflitos e as situações localizadas, onde estão e como envolvem as comunidades". Como exemplo, o antropólogo cita a situação dos ribeirinhos. "Eles podem navegar no rio Madeira como antes? Não. A paisagem está sendo transformada", observa. Isso acaba causando danos não só ambientais, pois também interfere na forma como as pessoas se relacionam com o ambiente.
Segundo ele, além de ribeirinhos, quilombolas, indígenas, grupos isolados, pescadores artesanais e extrativistas também são afetados pelo Complexo. Muitas situações de conflito, entretanto, acontecem por conta da falta de informação. Para o antropólogo, as audiências públicas sobre os projetos não deram segurança aos povos que moram nessas áreas. "Há certa insegurança [por partes desses grupos] quanto ao futuro deles", afirma.
Lançamento
Além do lançamento da obra "Conflitos Sociais no Complexo Madeira", o evento contará com ampla programação, que começará a partir das 16h com exibição de filmes. O lançamento do livro será logo depois, às 18h e, em seguida, haverá apresentação da cantora e compositora Cristina Matos, membro do Grupo Hera da Terra, e de Guilherme Fernandes, integrante do Grupo Literário Extremo Norte.
Às 19h30, Alfredo de Almeida, organizador do livro, Guilherme Carvalho, educador da Fase Amazônia, Rosa Marim, membro do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará, e Dion Monteiro, integrante do Comitê Metropolitano Xingu Vivo para Sempre, participarão de um debate sobre os efeitos socioambientais provocados pelas hidrelétricas na região.
(Por Karol Assunção, Adital, 26/02/2010)