O ano começa com perspectivas positivas para a maior fabricante de papéis do Brasil. A expectativa é de que, com a retomada da demanda, a companhia consiga vender toda a produção e se desfazer dos estoques do ano de 2009. Ao contrário do ano anterior, em que a companhia foi forçada a reduzir os investimentos, 2010 será marcado pela retomada dos projetos.
- O valor ficará ligeiramente acima do investido no ano passado - disse o diretor-geral da Klabin, Reinoldo Poernbacher, durante a teleconferência de divulgação de resultados. O executivo não especificou com exatidão qual será o total investido, mas sabe-se que em 2009, o montante somou R$ 247 milhões. A empresa previa investir R$ 300 milhões no ano, mas postergou ou adiou aportes para preservar o caixa, adequando-se ao cenário de crise financeira internacional.
As metas de curto prazo da companhia incluem aumentar o volume de vendas, desenvolver novos produtos para o mercado externo e interno, aumentar a geração operacional de caixa, reduzir a relação dívida líquida/Ebitda, entre outras. A companhia aprovou investimentos com impactos positivos e pretende implantar uma caldeira de biomassa em Otacílio Costa (SC), que deverá substituir uma caldeira a óleo combustível, e substituir a linha de transmissão de alta tensão de Monte Alegre (PR) dos atuais 69Kv para 230Kv, reduzindo o custo da energia elétrica. A caldeira atual, queima 20 mil toneladas do combustível por ano. O investimento neste projeto será de cerca de R$ 35 milhões. Antes da crise econômica, a Klabin estudava investimentos em Otacílio Costa e em Correia Pinto, a última cidade também em Santa Catarina. Os dois projetos foram paralisados.
Segundo o executivo, a retomada desses investimentos, entretanto, dependerá do próprio mercado e do câmbio.
- A capacidade de produção de kraftliner no Brasil é maior que o consumo interno, então qualquer nova produção é destinada a exportação - declarou. A fraca demanda internacional por kraftliner no primeiro semestre, aliada ao aumento das transferências para as fábricas de embalagens de papelão ondulado da empresa, contribuíram para a redução do volume de vendas em 2009. O volume ficou em 393 mil toneladas, 14% inferior a 2008. Essa redução, aliada à queda do preço de vendas e à apreciação da taxa cambial contribuíram para a forte queda na receita líquida de 2009 em comparação com 2008. Já a partir de agosto de 2009, as vendas no mercado doméstico passaram a apresentar forte reação, superando os volumes do ano anterior nas mesmas bases de comparação.
Nova fábrica
A nova fábrica de celulose da Klabin, para atender uma futura unidade de produção de papel-cartão, deverá será construída no Paraná, onde a companhia possui sua principal unidade e uma grande base florestal. O total do investimento e a previsão do início de implantação da unidade não foram divulgados. Klabin prevê erguer uma fábrica de celulose, também sem data de início de operação, além sobras para o mercado. A capacidade ficará entre 1,3 milhão e 1,5 milhão de toneladas/ano, elevando o toal para 3,2 milhões de toneladas/ano. A empresa também contempla a instalação de uma nova máquina de cartão com capacidade entre 400 mil e 500 mil toneladas/ano, aumentando a capacidade de produção de cartões para 1,2 milhão de toneladas/ano e a capacidade total de produção de papéis e embalagens de papel da Klabin para 2,6 milhões de toneladas/ano.
Poernbacher descartou a possibilidade de a fábrica de celulose ser construída no Mato Grosso do Sul. Recentemente, a Klabin comprou cerca de 7,5 mil hectares de terras no Mato Grosso do Sul, mas a companhia de acordo com o executivo, elas são destinadas apenas a pesquisa e desenvolvimento de material genético.
- Vamos deixar as florestas prontas e o mercado nos dará os indicadores de quando será interessante fazer. São atividades de pesquisa para as futuras décadas - explicou.
Poernbacher destacou ainda que é muito cedo para fazer qualquer pronunciamento.
- O desenvolvimento da área florestal leva muito tempo - disse, ao lembrar que construção de uma fábrica no Estado não está no cronograma de investimentos do grupo.
Segundo o diretor, os estudos realizados na região irão determinar a viabilidade de uma nova unidade produtiva.
- Os resultados mostram se a área é de interesse ou não - afirmou.
Resultados
A Klabin encerrou o ano de 2009 com um lucro líquido de R$ 333 milhões, frente a um prejuízo de R$ 349 milhões em 2008. As demonstrações de 2009 da Klabin contemplam o efeito não recorrente da adesão da empresa ao Programa de Parcelamento Fiscal (Refis) da Receita Federal. Com a aplicação das regras do programa, débitos em discussão de cerca de R$ 862 milhões foram reduzidos a aproximadamente R$ 335 milhões. O efeito no lucro líquido do exercício foi uma redução de R$ 299 milhões. Antes da adesão ao Refis, o lucro líquido atingiu R$ 632 milhões.
A geração operacional de caixa, o Ebitda (lucro antes de juros, imposto de renda, depreciações e amortizações), foi de R$ 747 milhões, 3% superior ao apurado em 2008. A margem Ebitda ficou em 25%. Em 2009, o volume de vendas consolidado (excluindo madeira) totalizou 1,5 milhão de toneladas, 2% inferior a 2008. As vendas no mercado interno cresceram 3% e o volume exportado caiu 11%.
A receita bruta da Klabin, incluindo madeira, atingiu R$ 3,6 bilhões, equivalente a US$ 1,8 bilhão. A receita líquida totalizou R$ 3 bilhões, 4% inferior a 2008. A receita de exportação representou 24% da receita líquida total. O custo dos produtos vendidos em 2009 foi de R$ 2,2 bilhões, 4% inferior a 2008, influenciado positivamente pela redução dos custos dos insumos de produção - com destaque para óleo combustível, aparas, energia elétrica e produtos químicos. O aumento da depreciação impactou negativamente o CPV. As despesas gerais e administrativas tiveram redução de 5% em relação a 2008 e as despesas com vendas em 2009 foram 6% inferiores frente ao ano anterior.
O endividamento bruto da Klabin, em 31 de dezembro de 2009, era de R$ 4,6 bilhões, frente aos R$ 5,4 bilhões verificados no final de 2008, uma redução de R$ 830 milhões devida, principalmente, à desvalorização do dólar em 25% frente ao real. O endividamento de curto prazo representa 15% da dívida total. A relação do endividamento em moeda local e estrangeira comparada à dívida total é de 47% e 53%, respectivamente. Já o endividamento líquido no final de 2009 era de R$ 2,6 bilhões, uma redução de R$ 1,2 bilhão em relação a 31 de dezembro de 2008. A relação dívida líquida/Ebitda, que em 31 de dezembro de 2008 era de 5,1 vezes, encerrou o ano de 2009 em 3,4 vezes. A posição de caixa da Klabin em 31 de dezembro de 2009 era de R$ 2,1 bilhões, contra R$ 1,7 bilhão no final de 2008. A posição supera as amortizações de financiamentos em mais de dois anos.
(Monitor Mercantil, 25/02/2010)