Em meio à secura do sertão, moradores têm de escolher entre passar sede ou arriscar a saúde.
O ônibus que estava caindo aos pedaços virou caminhão-pipa. É a única fonte de água dos moradores de Maniaçu, em Caetité, sudoeste da Bahia. “Temos dificuldade até para matar a sede. Se o caminhão não passar, não bebemos água”, diz a dona de casa Maria Aparecida do Nascimento.
O chafariz que abastece o povoado está fechado. O motivo é o mesmo que levou uma lagoa da região a ser interditada: água imprópria para o consumo, com altos teores de radiação. Reportagem do Bom Dia Brasil, 24/02/10 – 07h37 – Atualizado em 24/02/10 – 07h47
Ao todo, 22 pontos de abastecimento foram examinados por técnicos do governo da Bahia. Os resultados comprovaram que oito deles estão contaminados, inclusive um poço de uma comunidade rural. O nível de radiação encontrado na água foi sete vezes maior que o tolerado pela Organização Mundial de Saúde.
As fontes contaminadas ficam perto da mina de urânio explorada pela empresa estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB). As causas da contaminação estariam na usina de beneficiamento do minério. Ela produz 400 toneladas por ano de concentrado de urânio, matéria-prima do combustível que alimenta as usinas nucleares de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.
Há suspeitas de que material radioativo teria vazado das piscinas de decantação, que são tanques que recebem o minério triturado.
“Um operador esqueceu de fechar totalmente uma válvula e houve um transbordamento para as calhas, que foi a bacia. Como estava chovendo muito, um pouco de solvente saiu, mas ficou dentro da área da usina, foi totalmente contido, nada foi para o Meio Ambiente”, afirma o gerente de produção da Usina Hilton Mantovani Lima.
A INB foi multada pelo IBAMA por ter omitido o acidente. Apesar dos riscos, moradores da área dizem que ainda não deixaram de usar o poço. A dona de casa Carmelita Amorim se queixa de que a água do caminhão-pipa não chega para ela.
“Vou com o tambor, dou a mão para eles, que estou sem água, eles passam balançando o dedo dizendo que já tem compromisso lá na frente. Eu não posso ficar com sede, tem que usar essa água aí”, justifica Carmelita Amorim.
(EcoDebate, 25/02/2010)