Após mobilizações e diversas investidas judiciais, os moradores do bairro Urquiza, localizado na cidade de San Jorge, Argentina, juntamente com organizações sociais locais conseguiram a suspensão das fumigações de agrotóxicos em dois campos adjacentes ao bairro. Um parecer positivo da justiça provincial suspendeu as atividades por seis meses. Durante este tempo, será realizado um estudo sobre o grau de toxidade dos agrotóxicos e analisados os casos de doenças surgidas na região nos últimos anos.
Após o resultado positivo junto à justiça provincial, a solicitação dos moradores é que as fumigações sejam proibidas em toda a província de Santa Fé. Os moradores do interior da província são largamente prejudicados pela contaminação de suas plantações e do gado. Muitas vezes, a única saída para a situação é abandonar o campo e migrar para a cidade em busca de outra forma de subsistência.
A luta pela suspensão da aspersão dos agrotóxicos foi travada há mais de 15 anos. Aos poucos, os moradores da província de Santa Fé observaram o surgimento e o aumento de casos de doenças como câncer, má-formação, dermatites, abortos espontâneos e alergias crônicas. A constatação foi que o uso indiscriminado dos agrotóxicos estava colocando em risco a saúde toda a população da província.
Algumas campanhas buscaram chamar a atenção da população e do poder público local para o problema. Em 2006, os moradores iniciaram a campanha "Parem de Fumigar", que tinha como objetivo conscientizar sobre os riscos que a utilização indiscriminada dos agrotóxicos representava para a saúde. No ano de 2007, ONGs de Santa Fé organizaram a campanha "Soja para hoje, Fome para amanhã".
As campanhas e mobilizações trouxeram um resultado positivo. Durante seis meses os moradores do bairro Urquiza estarão livres das fumigações. Durante este período, o juiz Tristán Martínez deliberou que o Ministério de Produção, Agropecuária, Indústria e Comércio da província deverá, junto com a Universidade Nacional do Litoral preparar um estudo sobre o grau de toxidade dos agrotóxicos e explicar se é conveniente continuar com as fumigações. Já ao Ministério da Saúde caberá a tarefa de organizar um estudo nos bairros afetados para discernir se durante os seis meses as doenças diminuíram ou não.
Após a análise do resultado de todos estes estudos, o juiz decidirá se a suspensão das fumigações deve ser definitiva. Durante estes seis meses, os moradores da província de Santa Fé continuarão se articulando para que a decisão seja estendida a toda a região e para que a proibição das fumigações a uma distância segura se transforme em lei.
A primeira ação da população será a preparação de uma petição, direcionada ao governador Hermes Binner, solicitando que sejam proibidas as fumigações a uma distância limite de 800 metros das áreas urbanas para aspersões terrestres e de 1500 metros para aspersões aéreas. A intenção é que a medida também dure seis meses e seja definitiva após o resultado dos estudos.
(Por Natasha Pitts *, Adital, 23/02/2010)