Uma competição de gigantes vai movimentar o leilão da usina hidrelétrica de Belo Monte, previsto para abril. Os jornais anunciam acordo da Vale com a empresas Andrade Gutierrez Participações, Neoenergia Investimentos e Votorantim Energia para a formação de um consórcio que brigará pelo direito à paternidade deste símbolo do atraso brasileiro na questão energética.
O projeto da usina, menina dos olhos do governo Lula e marco do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), tem entre os impactos previstos uma estimativa de 20 mil desalojados, incluindo populações indígenas que há centenas de anos vivem nestas áreas, além de uma lista de negligências ambientais no projeto, apontada por pesquisadores independentes, em um estudo entregue ao governo em setembro de 2009.
Drásticos fins, neste caso, não justificam os meios. Em primeiro lugar, a usina é desnecessária, como mostra um parecer elaborado pelo Greenpeace, com assistência do do Grupo de Energia da Universidade Politécnica da USP (GEPEA - USP). O trabalho comprova ser possível conciliar a demanda energética do país com investimentos em renováveis mais modernos como eólica, biomassa e solar.
Para Marcelo Furtado, diretor executivo do Greenpeace no Brasil, o modelo de Belo Monte é defasado, não agrega tecnologia ao país e repete erros já cometidos no passado. “A usina de Belo Monte é uma prova, sobretudo, de como o Brasil enxerga o futuro pelo espelho retrovisor”, diz Furtado.
Alheios a este cenário, os gigantes se preparam para entrar no ringue e meter a mão na cumbuca ambiental, sem maiores dores na consciência. Além deste consórcio, estão previstos para o leilão um bloco formado pelas construtoras Camargo Corrêa e Odebrecht e um possível consórcio formado pela Eletrobrás e o BNDES. Orçada pelo governo em R$ 16 bilhões, na avaliação das futuras concorrentes, o valor da obra não deverá ficar abaixo dos R$ 30 bilhões.
(Blog do Greenpeace, 23/02/2010)