Areia cheia de bitucas de cigarro. Papéis. Embalagens plásticas. Palitos de madeira dos queijinhos assados e picolés. Latas de cerveja. Sabugos de milho. E não se diga que não existem lixeiras. Porque elas existem de trinta em trinta metros. E os garis, em dupla, rastelam a praia bem cedo. Mas o povo não colabora. Banheiros públicos não existem ao longo de toda a praia. Trinta ou quarenta mil pessoas urinando e defecando dentro da água. Águas pululando de coliformes fecais.
Turistas voltam para casa e não há água nas torneiras nem para o banho pós-praia. E nem para fazer comida. Revolta dos turistas nas imobiliárias contra a falta de água. Nos hotéis ainda existem grandes reservatórios de água. Caixas d*água que não são limpas há anos. Mas muitos hóspedes se queixam da falta de água. E do preço das diárias diante da falta de água.
Mobilidade urbana prejudicada. Estressante. Autoridades deixaram para arrumar a pista justo na época do veraneio. Formam-se engarrafamentos demoníacos. Para ir ao centro da cidade : uma hora e meia. Mais uma hora e meia para voltar. Perde-se uma manhã ou tarde para ir ao centro. Quem usa os ônibus corre o risco de tomar um tiro ou ser assaltado nos terminais rodoviários. Basta que traficantes resolvam tirar suas diferenças e discutir pontos de venda no terminal.
Fugas diárias de presos das cadeias e dos presídios. Arrombamentos. Ausência de policiamento ostensivo na praia. Os ladrões ficaram tão ousados que roubaram a casa do coronel chefe da polícia militar estadual.
Venda informal de todo tipo de alimento e produtos na praia sem que a fiscalização se faça presente de forma continuada. Milho em água quente e suja, queijo acondicionado em temperatura inadequada. O famoso “choripan”, carne de procedência duvidosa assada na carrocinha e colocada dentro do pão. Pastéis. Sanduiches. Cocadas. Dezenas de nordestinos vendendo redes. E também vestidos de praia, chapéus, cangas. E milhares de óculos falsificados. E mais colares e pulseiras metálicas. Tudo ao arrepio da lei. Às vezes, não se consegue conversar na praia porque os vendedores e camelôs chegam em hordas, de trinta em trinta segundos, e o turista tem de dizer “obrigado, não quero”.
Centenas e centenas de cães errantes defecando e urinando na praia, ao lado de crianças brincando. Para não falar nas madames e dondocas que passeiam com seus cães pela coleira.
Esgotos sendo lançadas diretamente na praia. Jornais publicam locais proibidos para banho. Perto do trapiche desemboca um rio de fezes e urina. Durante a noite inteira a praia é iluminada por pedras de crack incandescentes. Baderneiros gritam pelas ruas desrespeitando a lei do silêncio. Não há para quem reclamar. Ou se reclamam ou reclamaram, certamente não foram ouvidos.
Há dias em que a faixa de areia da praia desaparece. Até hoje não se implementou o famoso plano de dragagem que faria a praia aumentar de largura.
Estão matando a galinha dos ovos de ouro. Ano a ano diminui o número de veranistas. Aumenta a desocupação de hotéis e pousadas.
Eu decidi, por escolha do meu coração, passar os últimos anos de minha vida aqui. Pois amo esta praia. Adoro esta ilha da magia. E não posso me calar diante do processo que deterioração que ela está sofrendo.
Para quem reclamar?
(Por James Pizarro, colaboração de Ana Echevenguá, EcoDebate, 23/02/2010)