Depois da confirmação dos sete primeiros casos da doença, no domingo, a prefeitura de Ijuí promoveu hoje uma ofensiva contra o Aedes aegypti no bairro considerado o foco do contágio no município. A pulverização nas ruas e pátios das casas deve continuar nos próximos dias com o objetivo de evitar a proliferação do mosquito.
Protegidos por máscaras, luvas e roupas especiais, técnicos da Vigilância Ambiental de Ijuí, no noroeste do Estado, declararam ontem guerra à dengue diante de uma população assustada.
Das janelas e portas de casa, moradores do bairro São Paulo, considerado o foco da contaminação no município, acompanharam de perto a primeira batalha empreendida contra o mosquito Aedes aegypti – que há pelo menos duas semanas atormenta os quase 80 mil habitantes da cidade.
No domingo, o Laboratório Central de Saúde Pública confirmou os primeiros sete casos de contágio, desencadeando uma ofensiva por parte da prefeitura. Às 9h52min de ontem, um esquadrão de 25 técnicos – parte deles equipados com pulverizadores – adentrou as ruelas empoeiradas da região onde vivem a papeleira Solange dos Santos Bairros, 39 anos, a dona de casa Nilza Gonçalves, 49 anos, e a doméstica Tatiane Dias Barbosa, 25 anos.
Um dos mais pobres de Ijuí, o bairro São Paulo parou. Do quintal de casa, Solange chamou a família inteira para ver a fumaceira, que teve como alvo os principais vetores da dengue. O cheiro do inseticida obrigou a papeleira e os filhos a cobrirem o rosto com roupas.
– Aqui em casa todo mundo ficou doente. Disseram que era virose, mas eu acho que foi a tal da dengue – disse Solange.
Enquanto mantinha os filhos de três e seis anos trancados no quarto por precaução, Tatiane também testemunhou as borrifadas, ao lado da vizinha Nilza. Como Solange, ambas dizem ter sentido na pele os sintomas da doença. Estavam preocupadas.
– Faz duas semanas que tem gente mal aqui. Já pensou se isso se espalha? – questionou Tatiane.
Apesar do medo, a doméstica não deixou de mandar os filhos ao colégio. Mesmo sob a ameaça do surto epidemiológico, as aulas recomeçaram nas instituições da rede municipal – entre elas a Escola Dona Leopoldina, no bairro Burtet, que faz divisa com o São Paulo.
– Teremos uma reunião com os pais e vamos falar sobre as formas de prevenção e os sintomas – adiantou a diretora, Zilfa Maros, 57 anos.
Prefeitura monta QG
Quem também vem falando muito sobre o assunto nos últimos dias é a farmacêutica Caroline Bock Montagner, 28 anos. Funcionária de uma das principais farmácias de Ijuí, cujas vendas de repelente aumentaram, ela teve de orientar clientes afoitos. Alguns, segundo Caroline, chegavam ao balcão com fortes sinais de contágio.
A situação se repetiu no Hospital de Caridade, o maior do município, onde o setor de emergência continuou lotado – foram mais de 300 atendimentos desde o fim de semana. A procura só diminuiu a partir das 13h30min, quando começou a funcionar o QG montado pela prefeitura no Centro Municipal de Saúde.
Abatido, o metalúrgico Gilmar Camargo, 28 anos, escorava-se na parede enquanto esperava ajuda. Ao lado dele, o lavador de carros Iuri Karamer, 18 anos, também pedia um médico.
– Comecei a sentir dores no corpo e ter febre na sexta-feira. Hoje (ontem) apareceram manchas vermelhas na pele. Aí eu vim correndo – contou.
Casos como o de Iuri viraram o assunto principal das rodas de chimarrão e das conversas nas calçadas do Centro. Para acalmar a comunidade, o secretário estadual da Saúde, Osmar Terra, que deve visitar o município hoje, autorizou o envio de duas caminhonetes com nebulizadores de inseticida e quatro máquinas portáteis para pulverização a Ijuí. A fumaceira que ontem surpreendeu moradores do bairro São Paulo vai continuar.
(Por Juliana Bublitz, Zero Hora, 23/02/2010)