Instituição pede que as nações em desenvolvimento estudem com seriedade a questão do chamado e-waste, restos de computadores, celulares e outros equipamentos que já se acumulam pelos lixões e colocam em risco os ecossistemas e a saúde pública
O aumento do poder de compra nas últimas décadas em países como China, Índia e Brasil trouxe muitos avanços para essas sociedades, entre elas o acesso a equipamentos que antes eram apenas o sonho de muitas famílias, como um computador pessoal. O lado negativo desse desenvolvimento começa a se perceber agora, quando milhões de toneladas de lixo eletrônico são simplesmente largadas nos lixões, contaminando o solo e os lençóis freáticos.
É visando alertar os governos para esse problema que o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) divulgou nesta segunda-feira (22) o relatório "Recycling – from E-Waste to Resources", no qual afirma que se não forem adotadas as medidas necessárias para o reaproveitamento destes materiais, diversos países terão montanhas de lixo eletrônico que representarão um sério risco para a natureza e para a saúde das pessoas.
“Além de prevenir diversos problemas ambientais, a reciclagem de lixo eletrônico tem o potencial de virar uma fonte de renda e empregos. Além disso, reutilizar esses materiais é uma maneira de diminuir as emissões de gases do efeito estufa”, explicou Achim Steiner, diretor executivo do PNUMA.
O relatório, produzido em 2009, utilizou dados de 11 nações em desenvolvimento para estimar a geração atual e futura do lixo eletrônico, que inclui entre outros equipamentos: computadores, impressoras, celulares, pagers, máquinas fotográficas, brinquedos e televisores.
Na África do Sul e na China, por exemplo, a previsão para 2020 é de um aumento de 200% a 400% no lixo proveniente do descarte de computadores com relação ao ano de 2007. Na Índia, pode ser que se alcance um aumento de 500%.
A China atualmente produz cerca de 2,3 milhões de toneladas de lixo eletrônico, ficando atrás apenas dos Estados Unidos com 3 milhões. Apesar do gigante asiático ter banido a importação deste tipo de lixo, ele ainda segue sendo o maior receptor de e-waste vindo de países ricos.
Brasil
O relatório critica a escassez de informações sobre o volume e o destino do lixo eletrônico no Brasil. Alerta também para a falta de leis federais e de um maior controle público sobre o problema. Afirma ainda que políticas adotadas com sucesso em outros países, como taxas sobre as indústrias de eletrônicos que não reciclem seus produtos, seriam vistas como fortemente impopulares aqui, já que a carga tributária brasileira é bastante pesada.
Sobre as iniciativas de reciclagem no país, o relatório questiona o modelo pelo qual a maioria delas trabalha: se preocupando apenas em retirar os componentes que valem algum dinheiro e descartando o resto, sem maiores considerações com o meio ambiente.
USP
Mas recentemente tivemos boas notícias nessa luta contra o e-waste, como é o caso do Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática (Cedir), criado pela Universidade de São Paulo (USP) e que entrou em funcionamento no início deste ano. O objetivo do Centro é descartar adequadamente ou reciclar lixo eletrônico, como equipamentos obsoletos de informática e de telecomunicações (veja o vídeo).
Nos primeiros meses de operação, o Cedir irá priorizar o tratamento do lixo eletrônico da própria USP. No decorrer do ano, começará a receber os rejeitos da comunidade. As pessoas que tiverem equipamentos eletrônicos obsoletos poderão agendar o descarte ou obter informações pelo e-mail cedir.cce@usp.br.
(Por Fabiano Ávila, CarbonoBrasil/Pnuma, 22/02/2010)