Pesquisadores chegaram à conclusão de que as transformações no meio ambiente do Ártico estão muito mais velozes do que qualquer outro estudo anterior sugerira.
Quando vemos notícias de estudos alarmantes geralmente nos consolamos, mesmo que inconscientemente, no fato de que os efeitos deles só serão sentidos daqui a trinta ou cinqüenta anos. Acontece que cada nova pesquisa sobre o aquecimento global está trazendo datas mais próximas a nossa realidade, um sinal de que os países não estão fazendo sua parte para frear o fenômeno. A má noticia dessa vez é sobre o degelo do Ártico e o tempo para que isso se realize, o que pode ser em apenas três anos.
Durante 15 meses, mais de 300 cientistas de 27 nações se revezaram em uma expedição pelo Ártico a bordo do navio de pesquisas CCGS Amundsen. Os resultados preliminares deste trabalho foram anunciados em uma conferência no dia 5 de fevereiro, em Winnipeg, no Canadá.
Os pesquisadores chegaram à conclusão de que as transformações no meio ambiente do Ártico estão muito mais velozes do que qualquer outro estudo anterior sugerira, e que a falta de gelo no mar da região durante o verão, que era anunciada para 2100, na realidade já pode acontecer entre 2013 e 2030.
“As mudanças climáticas estão acontecendo muito mais rapidamente do que os nossos modelos mais pessimistas previam”, declarou David Barber, professor da Universidade de Manitoba e líder da pesquisa, durante uma conferência de imprensa.
Alerta para o mundo
De uma maneira geral, cientistas consideram o Ártico como uma das zonas mais vulneráveis às mudanças climáticas e dessa forma o que acontece por lá é uma amostra do que está por vir para o resto do planeta.
“Nós sabíamos que estávamos perdendo gelo, o mundo todo sabe disso. O que as pessoas não sabem é do impacto disso para o ecossistema”, explicou Barber.
Perda de gelo no mar significa menos área para os animais se reproduzir, encontrar comida e se esconder dos predadores. Também significa que mais espécies estão conseguindo ter acesso às águas do Ártico. Algumas baleias, por exemplo, nunca antes vistas na região, agora estão presentes com freqüência e não se sabe ainda que desequilíbrio podem causar.
“Se você for para uma floresta tropical e cortar todas as árvores, o ecossistema daquela região irá entrar em colapso. O mesmo acontecerá com o Ártico se o gelo desaparecer”, afirmou Barber.
As mudanças climáticas também estão causando mais ciclones na região, fenômenos que acabam afetando a formação do gelo. Assim, já está se estabelecendo um ciclo vicioso de mais aquecimento, mais ciclones e, portanto, menos gelo.
Ano dos Polos
Esta pesquisa faz parte do programa International Polar Year, uma grande iniciativa que irá desenvolver o maior número possível de trabalhos sobre os pólos sul e norte. Até o fim de 2010 devem ser apresentadas as conclusões dessa empreitada, que espera traçar um quadro fiel do que realmente está acontecendo nas extremidades do planeta.
Os custos do degelo do Ártico podem chegar a US$ 2,4 trilhões até 2050, avaliou o Pew Environment Group, em um relatório também divulgado na última sexta. Segundo o documento, a região está se aquecendo em um ritmo duas vezes mais rápido do que o resto do planeta.
O papel do homem nisso tudo está claro para o cientista John Hanesiak, também da Universidade de Manitoba. “Nós sabemos que somos parte do problema, não temos dúvida disso. Os modelos nos dizem isso claramente”, concluiu.
(Por Fabiano Ávila, CarbonoBrasil/EcoAgência, 22/02/2010)