Categoria afirma que pesquisas sísmicas feitas pela Petrobras dificultam a pesca e interferem na reprodução de peixes. Reunião discutirá assunto
Entidades representativas de pescadores realizam terça-feira reunião para pedir à Petrobras e ao Ibama compensação pelos danos socioambientais causados pela prospecção de petróleo na costa de Pernambuco. Segundo os líderes classistas, as pesquisas sísmicas das embarcações, iniciadas em janeiro, estão dificultando a pesca e interferindo na reprodução de cirigados e vermelhos. A reunião será às 14h30, na Colônia de Pescadores Z-1, em Brasília Teimosa.
Os pescadores artesanais alegam que são impedidos de atuar nos locais onde os navios da empresa francesa CGG Veritas, contratadas pelo consórcio formado pela Petrobras e a portuguesa Galp, realizam a prospecção. O trabalho, segundo o Conselho Pastoral dos Pescadores Nordeste (CPP-NE), é feito de Sirinhaém a Goiana, a uma distância de 21 quilômetros da costa. Reportagem do JC OnLine-Recife-PE.
“A área é isolada e os barcos não podem transitar”, garante o coordenador da CPP-NE, Severino Antônio Santos. Segundo ele, a suspensão temporária da atividade pesqueira tem causado prejuízo à categoria. “Queremos uma reparação por esse dano financeiro”, reclama Severino, que também é articulador-adjunto da Rede MangueMar em Pernambuco.
O presidente da Colônia Z-1, com mais de 1.900 associados entre os bairros recifenses de Santo Amaro e Pina, espera que a Petrobras compense financeiramente os pescadores. “Eles saem de barco, gastam combustível, e são obrigados a retornar porque o mar, que é de todos, está cercado pela Petrobras”, reclama Augusto Guimarães.
Para os pescadores de Jaboatão dos Guararapes, ao Sul do Grande Recife, o prejuízo tem sido maior. “Aqui é o lugar onde o navio de pesquisa e os dois rebocadores estão demorando mais”, justifica o presidente da Colônia Z-25, Mozart Alexandre Moura. “Quando a gente tá em cima do peixe, o rebocador manda se afastar”
Entre os impactos ambientais, os pescadores apontam a interferência na reprodução de peixes costeiros como o cirigado e o vermelho. “Pesquisas do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco e do Projeto Recifes Costeiros apontam que essas espécies fazem sua correção nesta época do ano”, diz Severino Antônio. Correção, para os pescadores, é o período de desova.
Severino diz que, no encontro realizado para a apresentação do Relatório de Impacto Ambiental (Rima), na Colônia Z-1, não foram mencionados os impactos socioambientais da prospecção. “Tampouco falaram sobre a possibilidade de compensação, como prevê o licenciamento do Ibama. Disseram apenas que o navio ia passar. Ou seja, nos enganaram”, afirma.
A superintendência do Ibama em Pernambuco informa, pela assessoria de comunicação, que a prospecção está legalizada junto ao setor de licenciamento do instituto no Rio de Janeiro.
Já a assessoria de imprensa da Petrobras, com sede também no Rio, disse que apenas a gerência de Atendimento e Articulação Regional Nordeste, em Salvador, poderia prestar informações sobre a pesquisa sísmica em Pernambuco.
A assessoria de imprensa do escritório de Salvador, por sua vez, informou que caberia a uma empresa de comunicação contratada pela Petrobras no Recife falar sobre o assunto. A empresa (Oficina de Notícias), no entanto, disse que apenas na segunda-feira poderá prestar informações sobre as atividades das embarcações contratadas pela Petrobras e a compensação socioambiental das pesquisas sísmicas.
(EcoDebate, 21/02/2010)