O Brasil é o maior consumidor de agrotóxico do mundo. O balanço feito em 2008/2009, e divulgado esta semana, aponta o consumo de 700 milhões de litros de veneno no País. Entre eles, os utilizados no Espírito Santo, nos extensos monocultivos de eucalipto mantidos pela ex-Aracruz Celulose (Fibria), no norte do Estado. Só nos últimos dias, dois cursos d’ água e uma bacia foram apontados como contaminados pela empresa, devido ao uso de venenos agrícolas.
Feitos a partir de produtos de petróleo e de químicos não degradáveis e, portanto, depois de fabricados, permanecem na natureza, esses produtos são utilizados em abundância no Estado, que já chegou a receber o título de maior consumidor de venenos agrícolas do País.
Na ocasião, para cada hectare (área com 10 mil metros quadrados, equivalente a um campo de futebol) do Estado, as empresas e os fazendeiros usaram 3,7 kg de herbicida. No conjunto, o uso dos agrotóxicos no Espírito Santo, com o uso 4,7 quilos por hectare, ficou atrás apenas de São Paulo, que consumia na ocasião 7,7 quilos por hectare.
A partir daí, os dados sobre o consumo de agrotóxico no Estado foram ficando cada vez mais escassos. Segundo o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) no Estado, isso não significa a diminuição da aplicação de agrotóxicos. A informação é que com a expansão dos eucaliptais no norte e agora também no sul do Estado, através do Programa Fomento Florestal da ex-Aracruz Celulose, tem propagado cada vez mais o uso do veneno. E, pior, de forma irresponsável, diante de plantios feitos às margens de recursos hídricos.
Os cursos d’água Talvegue Norte e Talvegue Sul e a bacia do Córrego Sahy já foram contaminados por venenos agrícolas utilizados nos eucaliptais, como denunciam os ambientalistas. Além deles, dezenas de córregos que cortam as aldeias indígenas em Aracruz e as comunidades quilombolas no norte do Estado também reclamam da morte de peixes após as aplicações dos produtos químicos.
Além de contaminar a água, esses venenos matam a biodiversidade representada pela variedade de vida vegetal e animal, afetam a fertilidade natural do solo (ao acabar com bactérias e nutrientes naturais) e contaminam o lençol freático e a qualidade das águas da chuva - pois os venenos secantes evaporam para a atmosfera e depois regressam com a chuva. Afetam também a qualidade dos alimentos. Quando ingeridos sistematicamente, podem causar destruição das células e resultar em câncer.
Ainda assim, ressalta o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), o consumo dos agrotóxicos são anunciados com orgulho pelas empresas. “Certamente seus gerentes buscam apenas produtos orgânicos nas gôndolas dos supermercados, enquanto o povo é obrigado a engolir seus venenos”, declarou o movimento.
O 3º Seminário Nacional sobre Agrotóxicos, realizado em 2009, em Brasília, apontou que a produção não agroecológica está sob influência de volumes elevados de defensivos químicos, muito além do aceitável para que o consumo de alimentos não represente ameaças à saúde. O Espírito Santo contribui significativamente com essa triste realidade, apesar da crescente produção orgânica que se estabelece em municípios do interior.
Segundo o último balanço divulgado pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxico em Alimentos (Para), em julho de 2009, dos 20 alimentos analisados no Estado, o abacaxi, repolho, uva e pimentão, apresentaram índices insatisfatórios de resíduos de agrotóxico. Das 59 amostras estudadas, sete estavam com índice de contaminação acima do permitido.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 19/02/2010)