O grupo chileno CMPC, que assumiu o controle da fábrica de celulose que pertenceu à Aracruz, em Guaiba, está pautando seus primeiros movimentos por uma atenção especial ao relacionamento com a comunidade gaúcha.
Manteve praticamente intacto o quadro de executivos que já vinham desenvolvendo o projeto de expansão da produção e, na primeira apresentação de seus planos no Estado, em almoço com a imprensa na última quinta-feira, 4, fez questão de prometer transparência nas suas atividades e respeito às peculiaridades locais.
“Queremos falar sempre, na alegria e na tristeza”, disse Francisco Bueno, que permanece à frente da assessoria de Comunicação.
“Será permanente a nossa preocupação com a licença social, dada pela opinião pública, que para nós é tão importante quanto as licenças legais”, reforçou Walter Lídio Nunes, que já estava à frente do projeto da Aracruz e agora assume a presidência da nova empresa. “Queremos ser e parecer uma empresa afinada com os interesses do Estado”.
Segundo Nunes, o próprio nome adotado – “Celulose Riograndense” – é uma demonstração da sensibilidade dos controladores para os valores locais. “Era para ser Celulose Brasil, mas um dos dirigentes do grupo, que veio ao Estado, sugeriu a mudança, ao saber o quanto os gaúchos são ciosos dos seus valores”.
A CMPC é o maior grupo chileno do setor, com faturamento da ordem de 3 bilhões de dólares e uma trajetória empresarial de 80 anos. A compra da unidade de Guaiba, por 1,43 bilhão de dólares, é o maior investimento feito por um grupo chileno no exterior.
O negócio foi fechado em dezembro passado, como uma saída para a crise que inviabilizou a Aracruz.
Abalada por gigantescas perdas no mercado financeiro em decorrência da crise internacional de 2008, a Aracruz foi absorvida pela Votorantim Celulose e Papel, dando origem à Fíbria, a maior empresa do setor no país. Mas devido ao elevado grau de endividamento que herdou e à necessidade de investimentos maciços para levar adiante o projeto de expansão da unidade de Guaiba, a Fibria preferiu transferí-la para o grupo chileno.
A continuidade do projeto de expansão – das atuais 450 mil para 1,8 milhão de toneladas anuais – já está assegurada pela CMPC, mas o ritmo da retomada dos investimentos vai ser ditado pelas condições do mercado.
(Jornal JÁ, 05/02/2010)