Com a operação, nascerá uma das maiores produtoras de etanol do mundo, com capacidade inicial de três bilhões de litros/ano e geração de 2.500 gigawatts-hora (GWh) de energia a partir da queima do bagaço de cana.
Criada em 2007, a Brenco passava por problemas de gestão e de caixa, e a negociação com a ETH foi a melhor solução encontrada pelos atuais sócios para tentar preservar o capital já investido.
Entre os sócios da empresa, estão o indiano Vinod Khosla (fundador da Sun MIcrosystems), o ex-presidente do Banco Mundial (Bird) James Wolfensohn, o BNDESpar (braço de investimentos do BNDES) e o ex-presidente da Petrobras Henri Philippe Reichstul.
Já a ETH é administrada pela Odebrecht em associação com a japonesa Sojitz, dona de 33% das ações.
A operação também vai representar mais um movimento na direção da consolidação do setor no país. No início do ano, a Shell fechou acordo com a Cosan para “produção de etanol, açúcar e energia elétrica, além da oferta, distribuição e transporte de combustíveis”. Com mais de US$ 3,8 bilhões em caixa depois de vender as operações de fertilizantes para a Vale, a Bunge foi outra a anunciar que pretende dobrar suas apostas na produção de etanol.
— O setor vai sair de uma situação competitiva na oferta do produto para uma situação de oligopólio — afirmou o consultor Julio Maria Martins Borges, para quem no prazo de cinco a dez anos o número de produtores no Brasil deve cair de 300 para 15 ou 20 no máximo.
Para o consultor, passada a crise financeira de 2008, que fez os empresários engavetarem projetos de novos investimentos, o cenário aponta para o aumento do preço do barril do petróleo a médio e longo prazos.
E, nesse cenário, a busca por fontes alternativas de combustíveis vai ganhar cada vez mais espaço na estratégia dos gigantes mundiais do setor.
— Os grandes players começam a se movimentar e o Brasil e um dos grandes tabuleiros nesse jogo — afirmou Borges.
De 60% a 70% da companhia devem ficar com a Odebrecht. As negociações entre ETH e Brenco começaram em outubro passado. Antes, a Brenco também conversou com a britãnica BP, a francesa Total e até a Petrobras. Procuradas ontem, as companhias não quiseram comentar a operação. No meio da tarde, em nota, a ETH anunciou para hoje entrevista “sobre a combinação de ativos das duas empresas”.
Pelas informações de executivos que têm acesso às empresas, a Odebrecht deverá ficar com um percentual entre 60% e 70% da nova companhia e com sete dos dez assentos no conselho de administração.
Como parte da operação, a Brenco também deve fazer nova emissão de debêntures, no valor aproximado de R$ 155 milhões, e destinar o dinheiro para a construção de novas usinas.
O projeto inicial da Brenco previa a inauguração de dez usinas até 2015, com investimentos superiores a R$ 5 bilhões. Instaladas na região Centro-Oeste do país, teriam como objetivo principal suprir a demanda por etanol do mercado externo. Mas, depois de R$ 700 milhões investidos e novos aportes dos sócios, nenhuma ainda começou a operar. A expectativa é que a usina de Morro Vermelho (GO) inicie o processamento de cana-de-açúcar neste semestre. Alto Taquari (MT) ficou para o fim do ano e Costa Rica (MS) e Água Emendada (GO), para 2011. Já a ETH tem cinco usinas, sendo que três começaram a operar no ano passado: Rio Claro (GO), Santa Luzia (MS) e Conquista do Pontal (SP).
Para fechar o negócio, a EHT teria exigido a manutenção do atual cronograma de investimentos por parte das empresas — por isso, a emissão de R$ 155 milhões em debêntures.
Concluída a compra, o projeto é fazer a abertura de capital da nova companhia até o próximo ano.
Para entidade, investidores voltaram a apostar no etanol Para o diretor-técnico da União da Indústria de Cana-deAçúcar (Unica), Antonio de Pádua Rodrigues, os investidores voltaram a apostar no etanol.
Mas ele frisa que, por ora, o interesse é pela compra de ativos já existentes, e não a construção de novos.
— O setor comemora todos os negócios, mas o que temos até agora não traz crescimento assegurado de oferta para os próximos anos.
Pelas contas da entidade, o número de novas usinas que entraram em operação caiu de 30, em 2008, para 19 em 2009. A previsão é de dez a 12 para este ano.
Rodrigues afirmou que a combinação de falta de crédito e de baixa de preços do produto no mercado interno “desestimulou” novos aportes de capital nos últimos dois anos.
— É preciso investir em novos projetos. Uma usina pode levar de três a cinco anos para entrar plenamente em operação — disse o diretor da Unica.
(Por Aguinaldo Novo, O Globo, IHU On-line, 18/02/2010)