As chuvas, que retornaram ao Rio Grande do Sul com intensidade no final de semana, compõem o ambiente propício ao desenvolvimento de doenças fúngicas como a ferrugem asiática da soja. Até agora, o Consórcio Anti-ferrugem contabilizou 371 ocorrências nesta safra, número que já supera o ciclo 2008/2009, quando foram registrados 246 casos no RS.
A elevação é resultado de uma estação quente e chuvosa, com períodos maiores de umidade, explica a pesquisadora da Embrapa Trigo, Leila Costamilan. "A ferrugem se espalha com o vento e não existe cultivo resistente à doença que, com seis horas a 12 horas de molhado, se instala." No entanto, pondera que a rede de informantes aumentou, o que tem efeito sobre os números.
A precipitação também colocou em alerta lavouras de soja semeadas em áreas de várzea, que podem registrar queda de até 20% no rendimento. "Por enquanto, essa precipitação só nos deu susto. Mas é preciso que pare de chover, ou a soja vai afogar", observa o presidente do Sindicato Rural de Pedro Osório e Cerrito, Rodrigo Costa de Souza Costa.
Desde o final de semana, chove sem uniformidade no Estado. O assistente técnico da Regional de Bagé da Emater Erich Oscar Groeger relata que a precipitação chegou a 160 milímetros somente na terça-feira em uma localidade de Livramento. No entanto, a média do município na data foi em torno de 35mm. Ele destaca que os solos da região estão com boa umidade e as áreas baixas já sofrem alagamentos. Um dos produtores que enfrenta problemas é Luis Alberto Schiefelbein, da Granja Valente, em Bagé, que trabalha com perspectiva de quebra de 10% na lavoura de arroz.
Na Fronteira-Oeste, cerca de 3% da área de 307,4 mil hectares de arroz já foi colhida. Os trabalhos, porém, tiveram de ser interrompidos por causa da chuva, conforme o agrônomo Gustavo Hernandes, do Irga. Em função do atraso na semeadura de 30% da área, das enchentes e da perda definitiva de 15 mil ha, a produtividade, antes esperada em 8 mil quilos/ha, deverá ficar em 7,3 mil quilos/ha.
Em contrapartida, a umidade favoreceu as pastagens que, de tão altas, chegam a ser roçadas e já colocam o gado em uma condição exuberante na Região Sul. Em Pelotas, as fortes chuvas foram concentradas em curtos espaços de tempo. Na região Noroeste, a chuva foi irregular, mas, ainda assim, levou alento às lavouras de soja e ao gado leiteiro, que se ressentiam principalmente com o calor abundante. "O impacto da precipitação foi positivo e imediato sobre a soja e o milho", observou o secretário-executivo do Sindicato Rural de Santa Rosa, Gilmar Luis Grechi.
(Correio do Povo, 18/02/2010)