Para manter o que restou de árvore nativa em pé no Paraná, programas de fomento à silvicultura tentam atrair os pequenos produtores rurais para que eles reservem parte de suas propriedades ao plantio de espécies comerciais, ganhando dinheiro sem desmatar. Para ambientalistas, a floresta plantada não substitui a importância da nativa, mas consegue frear a devastação.
O Ministério do Desenvolvimento Agrário mantém duas linhas de crédito dentro do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf): o Pronaf-Florestal, voltado à exploração comercial do plantio de árvores exóticas ou nacionais (como pínus, eucalipto, bracatinga e araucária), e o Pronaf-Eco, ligado ao financiamento de áreas para reposição da mata nativa. Hoje, conforme o gerente de agronegócio do Banco do Brasil no Paraná, Cezar de Col, há 3,5 mil contratos vigentes do Pronaf-Florestal.
Primos apostam no eucalipto
Na zona rural de Rebouças, na Região Centro-Sul do Paraná, os primos Marcelo Gobor, 38 anos, e Mauro Eugênio Demczuk, 53 anos, resolveram diversificar as produções em suas propriedades e aderiram ao Pronaf-Florestal há quatro anos. Cada um plantou quatro hectares de eucalipto em áreas vizinhas. A escolha se deu porque o eucalipto cresce mais rápido que as outras espécies.
Restam menos de 10% de floresta nativa
Entre 2005 e 2008, o Paraná perdeu 0,51% de sua floresta remanescente de Mata Atlântica, segundo relatório da Fundação SOS Mata Atlântica feito em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Restam apenas 9,85% de floresta concentrados no Parque Nacional do Iguaçu e no litoral. Excluindo essas duas fatias, o que resta de floresta remanescente é quase insignificante.
Esse número pode aumentar porque está em fase de formatação o programa Ouro Verde, lançado no mês passado pela Secretaria Especial de Florestas do Paraná para abranger plantios de até 10 hectares. Ele pretende utilizar as linhas do Pronaf com o acréscimo de R$ 800 milhões do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) para serem investidos em oito anos. Col lembra que uma das dificuldades dos pequenos agricultores é obter assessoria técnica e jurídica para a adoção das linhas, mas por meio do Ouro Verde eles irão contar com a ajuda do estado.
O secretário especial e coordenador do programa, Nivaldo Krüger, lembra que um dos pontos altos da proposta é a instalação do programa em áreas com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Paraná. A meta é trabalhar dentro do conceito de desenvolvimento sustentável para levar uma alternativa de renda ao pequeno produtor e ainda preservar a natureza. “Se o produtor plantar árvores de reflorestamento, não irá derrubar a mata nativa. Isso é perfeito, pois ganha o pequeno produtor e ganha a natureza”, considera Col.
Postura
O Paraná conserva menos de 10% de sua floresta nativa e, embora não se saiba precisar quem são os grandes vilões do desmatamento – se os pequenos ou os grandes produtores rurais –, os programas de incentivo à silvicultura revelam uma postura mais preocupada com o meio ambiente das indústrias de base florestal.
“Para se produzir uma mesa de plástico você gasta 10 vezes mais energia elétrica que para produzir uma mesa de madeira. Além disso, em torno de 40% a 50% da madeira é carbono fixado, isso é uma grande vantagem. Dentro da construção civil, a madeira é o único bem renovável. O concreto e o ferro, por exemplo, não vêm de recursos renováveis, eles podem ser apenas reciclados”, afirma o gerente executivo da Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal, Ailson Loper.
O setor tenta há anos “separar o joio do trigo”, ou seja, demonstrar que há empresas que usam apenas madeira legal. Conforme Loper, a Apre participa do Fórum Diálogos Florestais, com encontros periódicos que colocam numa mesma mesa de discussão setores que por muito tempo se digladiaram – madeireiros e ambientalistas – e hoje tentam encontrar soluções econômica e ambientalmente viáveis. “Quem desmata deve ser preso”, acrescenta.
(Por Maria Gizele da Silva, Gazeta do Povo, 17/02/2010)