A OMS (Organização Mundial da Saúde) se prepara para anunciar ainda em fevereiro o fim da fase aguda da pandemia de gripe A (H1N1). Desde que os primeiros casos surgiram no México, em março último, a doença matou pelo menos 15,1 mil pessoas no mundo.
"Não se pode dizer que uma pandemia acaba da noite para o dia", disse à Folha em Genebra Gregory Hartl, porta-voz da OMS para epidemias. "Mas estamos agora provavelmente em uma fase de transição, na qual notamos um declínio persistente dos casos, embora ainda haja surtos pontuais."
A decisão deve ser tomada no fim deste mês em reunião de avaliação da comissão de emergências da OMS, em Genebra.
Uma vez declarado o fim da fase de pico, a OMS passará a monitorar o comportamento do vírus para verificar se sua taxa de transmissão entra nos mesmos padrões dos vírus de gripes sazonais (comum).
Essa fase durará pelo menos até o próximo inverno setentrional, no início de 2011. Só então a entidade poderá avaliar se a pandemia acabou ou não.
Isso porque, segundo Hartl, não está descartado o risco de que as taxas de transmissão voltem a subir. "Ainda há surtos pontuais da doença. Embora a transmissão tenha recuado em todas as regiões do mundo, na África Ocidental ela continua aumentando, então é preciso observar", diz. "Levará pelo menos duas temporadas [de gripe] para concluir se entramos na fase pós-pandêmica."
A pandemia de gripe A foi declarada em junho de 2009 e significa que a OMS constatava então a propagação contínua e disseminada do vírus em duas ou mais regiões do planeta. Na época, foram feitos alertas e governos compraram centenas de milhares de doses de vacina.
Mas a disseminação arrefeceu, os estoques encalharam e os governos europeus tentam agora revendê-los e cancelar encomendas. Nos últimos dois meses, a OMS se viu no centro de uma polêmica em que médicos, especialistas e parlamentares europeus a acusam de exagerar o alerta para beneficiar a indústria -farmacêuticas como a suíça Novartis registraram lucro recorde.
Um inquérito com apoio do Parlamento Europeu está sendo conduzido no Conselho da Europa, principal entidade de monitoramento dos direitos humanos no continente, e deve ser concluído em junho. A OMS defende sua conduta, nega a influência das farmacêuticas e atribui a contenção das mortes à rapidez de sua ação.
(Por Luciana Coelho, Folha de S. Paulo, 12/02/2010)