O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, agravou os temores da comunidade internacional ao afirmar ontem que já produziu o primeiro pacote de urânio enriquecido a 20% para seu reator nuclear de Natanz e que tem capacidade para enriquecer o material até 80%. Para a construção de armas nucleares é necessário enriquecer o mineral radioativo a mais de 90%. Segundo o governo iraniano, o lote de urânio enriquecido a 20% será usado para o tratamento de câncer. "O Irã é capaz de enriquecer urânio a mais de 20% e, inclusive, a mais de 80%, mas não o fará, pois não precisa", disse o presidente iraniano, em discurso durante a celebração do 31º aniversário da Revolução Islâmica.
Em Washington, o governo dos Estados Unidos afirmou que duvida que o Irã tenha a capacidade de enriquecimento de urânio para fins militares. O porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, disse que as declarações de Ahmadinejad sobre a questão nuclear se baseiam "mais em política do que em física". Na terça-feira passada, o Irã elevou sua capacidade de enriquecimento de urânio de 3,5% para 20%. Um acordo esboçado em outubro entre Teerã e os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha previa que o país enviasse esse material para ser enriquecido fora do país. Assim, haveria a garantia de que o urânio não seria utilizado com fins militares.
Na semana passada, Ahmadinejad sinalizou que aceitaria o acordo, mas voltou atrás no domingo. O chefe do programa nuclear iraniano, Ali Akbar Salehi, disse que um acordo ainda é possível. As potências ocidentais reagiram ao anúncio com ameaças de impor novas sanções ao Irã no Conselho de Segurança. Os EUA se adiantaram e já anunciaram punições unilaterais.
O aniversário da Revolução Islâmica foi marcado ontem por uma grande celebração governista e também por protestos da oposição, apesar de proibidos. Testemunhas relataram que a Polícia reprimiu o protesto dos que gritavam slogans da oposição em um local perto de onde o presidente discursava. O Irã proibiu jornalistas estrangeiros de cobrir os protestos oposicionistas.
(Correio do Povo, 12/02/2010)