Sobre aquela mesa, onde mais tarde um pequeno grupo almoçará arroz, feijão e galinha caipira e tomará suco de Bacuri, alinha-se uma toalha de linho branco e uma farinheira descansa para que uma mão ou mais de uma a aborreçam ao apanharem um tanto de farinha.
Os minutos, que antecedem o almoço na casa de dona Mariota, povoado de São Raimundo, município de Urbano Santos, dormitam em alguma cadeira ou em alguma rede, mas o rio Preguiça canaliza a vontade de quem banha em esvoaçar como um Buritizeiro daquele Buritizal.
Em menos de meia hora, a mesa acantonará, em suas extremidades e por seus lados, aqueles que rosquearam a Chapada com sementes de adubadeiras, ou seja, sementes de feijão-guandú. A agrônoma Georgiana Carvalho, assessora-técnica do projeto "Sustentabilidade do Extrativismo do Bacuri em Urbano Santos", torce o nariz e o corpo todo para determinadas comidas bem típicas do interior do Maranhão, como carne de porco, mas suspira sem nenhum alivio pelos doces de Buriti e de Bacuri da Dona Conceição, moradora de São Raimundo.
Ela arranca suspiros e arranca também pagamentos modestos pelos quilos de doces e pelo quilo de polpa de Bacuri. A venda de Dona Conceição encontra freguês para qualquer mercadoria que ofereça. Raramente, ela aprecia os seus próprios quitutes. A diabetes a derruba por vezes. Então, como ela sabe que o doce ficou bom?
A qualidade das polpas que os moradores de São Raimundo obtêm a partir da coleta de Bacuris na Chapada reside na espera pela queda dos frutos no solo. O fogo queima brandamente sob a panela para que o calor apure tanto a polpa como o açúcar. A dona Conceição aguarda, sem atropelo, que o doce de Bacuri se agrade do seu sabor e da sua forma. Ela apenas põe os elementos dentro da panela e acende o fogo. O resto, a noite discursa.
Na Chapada, tudo é uma questão de espera ou de quanto menos se espera. A comunidade do Bracinho, quando menos esperava, escaramuçou com a Suzano Papel e Celulose. Os moradores dessa comunidade foram convidados para participarem do curso. Por conta da investida dos tratores e dos funcionários da Suzano sobre as suas áreas de Chapada e porque eles jogaram água fria sobre os planos da empresa ao montarem barreiras, eles não foram.
Como aconteceu em São Raimundo, Bom Principio e Boa União, Bracinho se manteve livre da monocultura do eucalipto.
(Por Mayron Régis *, Adital, 09/02/2010)
* Jornalista Fórum Carajás