A água de duchas e banheiras, de lavadoras e máquinas de lavar pratos chega aos esgotos das cidades a uma temperatura média entre 15ºC e 20ºC, uma energia geralmente desperdiçada, mas um sistema inovador sugere aproveitar o recurso hídrico para aquecer piscinas em um município perto de Paris.
Levallois-Perret, situada nos arredores da capital francesa, é pioneira na França no aproveitamento da energia dos esgotos, com o qual pretende economizar na conta de energia elétrica e reduzir as emissões de gases do efeito estufa.
"Quando soube a quantidade de calor perdida nos esgotos decidi que tinha de fazer alguma coisa", afirma a vereadora do Meio Ambiente da localidade, Sophie Deschiens, que não esconde querer tornar sua cidade referência no aproveitamento de energias limpas.
Deschiens percorreu o mundo para conhecer as tecnologias de aproveitamento dos recursos ecológicos e descobriu um sistema que permitia recuperar o calor dos esgotos. "Não duvidei um instante, tínhamos que tê-lo em nossa cidade", diz a vereadora da localidade.
Execução
Para começar, decidiram aplicar o sistema para aquecer o novo centro aquático que está sendo construído na cidade, dotado de três piscinas, saunas, jacuzzi e outras instalações. Em meados deste mês, o sistema estará pronto e começará a aproveitar o calor dos esgotos.
A empresa Lyonnaise des Eaux ficou encarregada de iniciar o projeto porque, além disso, é a responsável pelo tratamento de água e esgoto de Levallois-Perret.
Os analistas calcularam que os lares consomem cada vez menos água, porém cresce o uso de água aquecida, o que facilita o aproveitamento desta fonte de energia. A ideia é manter durante todo o ano a água das piscinas a uma temperatura de 28ºC com a ajuda do calor recuperado dos esgotos.
O princípio é simples. Uma série de placas de aço inoxidável é fixada no fundo das tubulações de esgotos equipadas com um líquido especial que capta o calor. "É preciso que haja um volume de água residual mínimo para que o sistema funcione, mas tivemos a sorte que os esgotos que passam próximo do parque aquático atendiam as necessidades", explica.
Uma distância de 80 metros separa a local onde estão as placas da caldeira que aquece o parque aquático.
Com este sistema, Levallois-Perret pretende reduzir em 24% os gastos com energia elétrica do parque e 66% as emissões de gases do efeito estufa. Deschiens está convencida que o sistema é rentável no longo prazo e espera amortizar o investimento em dez anos. A cidade gastou 474 mil euros para instalar o sistema que recupera o calor da água e do esgoto.
Quanto o projeto estiver funcionando a pleno a economia na conta de energia elétrica pode alcançar os 48 mil euros anuais, calcula a vereadora. Para Deschiens, o novo sistema faz parte da aposta da cidade por energias limpas. Há anos, o sistema de calefação da cidade recebe energia gerada no tratamento de lixo.
Este sistema, que funciona desde 1989, vai utilizar a energia que não for utilizada no aquecimento do centro aquático.
O novo projeto apresentará a energia equivalente a cerca de 800 megawatts dos 3.600 megawatts que consome anualmente o parque de águas. O sistema de recuperação do calor da águas e do esgoto chamou a atenção de outras cidades do país.
Valenciennes e Bordeaux enviaram os responsáveis ambientais para obterem informações das instalações de Levallois-Perret. "Se outras cidades querem copiar o sistema, estamos felizes. Nunca ninguém se interessou tanto por nossos esgotos", brinca Deschiens.
(Por Luis Miguel Pascual, EFE, Folha Online, 05/02/2010)