A União Europeia (UE) exigiu neste sábado que o Irã aceite as propostas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) sobre seu programa nuclear, mas os Estados Unidos manifestaram muitas dúvidas sobre a possibilidade de um acordo com a República Islâmica.
Em visita a Ancara, capital da Turquia, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, declarou neste sábado que não acredita na proximidade de um acordo com o Irã sobre a questão nuclear.
"Não tenho a impressão de que estejamos perto de um acordo", declarou Gates à imprensa em Ancara, após reuniões bilaterais com as autoridades turcas.
Na sexta-feira, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Manuchehr Mottaki, afirmou em Munique (Alemanha) que seu país é sério na intenção de enviar parte do urânio ao exterior para o enriquecimento, e que um acordo final sobre a troca de urânio com o Irã para o reator de pesquisas de Teerã estava próximo.
Neste sábado, Mottaki afirmou que teve uma boa reunião com o diretor da AIEA, Yukiya Amano. "Trocamos nossos pontos de vista sobre as propostas que estão sobre a mesa", disse, sem entrar em detalhes.
Durante a semana, o presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, criou expectativas de um progresso nas bloqueadas discussões internacionais sobre o programa nuclear, ao indicar que poderia estar disposto a aceitar uma oferta para enviar parte do urânio ao exterior para o enriquecimento.
O princípio da troca seria o envio por parte do Irã de urânio enriquecido a 3,5% para receber combustível altamente enriquecido (20%).
Tanto europeus como americanos, cansados de anos de conversações infrutíferas para persuadir o Irã a suspender o enriquecimento de urânio, acreditam que esta é uma nova estratégia de Teerã para ganhar tempo.
As potências ocidentais temem que o Irã tente desenvolver armamento atômico, sob o pretexto de realizar um programa de energia nuclear civil, suspeita negada pela república islâmica.
Mas Gates demonstrou todo o ceticismo de Washington: "A verdade é que quanto mais duram as coisas e mais continuam enriqueciendo (urânio), mais diminui o valor das propostas feitas pelo Irã sobre seu programa nuclear".
"Há cada vez mais urânio levemente enriquecido produzido no Irã. Portanto, se querem aceitar a proposta dos 5+1 (os países que negociam a questão nuclear iraniana), isto significa que devem fazê-lo o mais rápido possível", concluiu Gates.
Em Munique, o assessor nacional para a Segurança dos Estados Unidos, James Jones, afirmo que o programa nuclear iraniano e as incertezas que provocam representam atualmente o maior motivo de preocupação para a segurança coletiva.
"Em consequência desta questão, estão na balança uma corrida pelos armamentos nucleares no Oriente Médio e uma acentuação da proliferação. Atualmente não vejo nenhuma preocupação mais importante para nossa segurança coletiva", afirmou o general da reserva.
"Teerã deve assumir suas responsabilidades ou se expor a sanções mais fortes e, talvez, a um isolamento ainda maior", acrescentou na 46ª Conferência Anual sobre Segurança em Munique.
Sem citar o discurso da véspera de Mottaki, diante do mesmo público integrado por diplomatas e analistas, Jones afirmou que "a porta da diplomacia continua aberta, apesar das evidentes reticências do Irã, que são incompreensíveis".
Mas também advertiu que as pressões aumentarão sobre o Irã.
"A incrível desconfiança de Teerã nos leva a trabalhar juntos como aliados e sócios na elaboração de uma segunda série de sanções contra o regime iraniano", destacou.
Logo depois, a chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Catherine Ashton, afirmou que o Irã deve responder formalmente à proposta da AIEA de enviar urânio ao exterior para o enriquecimento e criar o clima de confiança necessário.
"O Irã deve responder ao diretor geral da AIEA. Há uma proposta sobre a mesa, uma tentativa de criar confiança com o Irã, sobre uma cooperação prática no setor nuclear", acrescentou.
(AFP / UOL, 06/02/2010)