A estatal INB trombeteia uma conclusão no mínimo curiosa dos especialistas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA): que a operação de extração de urânio em Caetité (BA) conduzida pela estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) é virtualmente perfeita, segura e ambientalmente corretíssima.
Isso tudo a AEIA concluiu em uma vista que durou apenas dez dias. Ninguém viu os dados coletados para tal conclusão tampouco os integrantes da missão foram entrevistados pela imprensa. Em outras palavras, a AEIA repete a INB: “Se o assunto é contaminação por urânio, la garantia soy yo!”
O quadro traçado é dos sonhos. Nessas horas, a sabedoria popular ensina que o dito está bom demais para ser verdade. E realmente não é isso que se vê por lá. Lendo apenas o informe no site da estatal, distribuído pela imprensa, pode-se concluir que os especialistas não olharam além dos muros da INB.
Qualquer pessoa que converse com a população no entorno da mina sabe que a realidade é outra. As explosões diárias na mina racham paredes de casas e espantam a fauna. O pó resultante da explosão, cheio de urânio, espalha-se num raio de centenas de metros, atingindo residências, plantações e animais. Poços que abastecem dezenas de famílias estão contaminados por urânio, conforme atesta o Instituto de Gestão de Águas da Bahia (Ingá).
A INB, que enquanto estatal deveria zelar pelo bem-estar da população, se faz de surda e cega e afirma que nada de errado acontece na cidade. Diz ela fazer análises periódicas da água dos poços do município. Seriam 16 mil por ano, desde o início das operações em 2002. Essas análises nunca apareceram, ninguém de fora nunca viu. Diz também a INB que nunca detectou qualquer grau de radioatividade nocivo à saúde humana, o que contradiz tanto o parecer do Ingá quanto análises feitas pelo Greenpeace em 2008.
Mas pior cego é aquele que não quer ver. O chefe da missão da AEIA, Peter Waggitt, chegou a falar que “a unidade de mineração, além de ser um lugar bonito para ser visitado, é também um local limpo, bem cuidado”. Bem cuidado, até pode ser. Já a noção de beleza é no mínimo curiosa, senão equivocada. Qualquer pessoa que viu uma mina sabe que organizada pode ser, mas nunca é bonita. Além disso, é como dizer que a pessoa mora em uma casa bonita sem olhar onde seu esgoto é jogado.
O Greenpeace aguarda ansiosamente que as conclusões da AEIA sejam expostas para o público, para comparar o escrito com o real. Porque, pelo informe da estatal, não podemos estar falando da mesma Caetité.
(Greenpeace Brasil, 05/02/2010)