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ipcc amazônia
2010-02-05 | Tatianaf

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) foi recentemente criticado pela mídia (i.e., o jornal inglês Sunday Times, 31 de janeiro 2010) por apresentar, em sua quarta avaliação (AR4), informações imprecisas sobre a suscetibilidade das Florestas da Bacia Amazônia à redução de chuvas. A declaração que suscitou críticas tem o seguinte teor:

“Até 40% das florestas amazônicas poderiam reagir drasticamente até mesmo a uma pequena redução na precipitação; isto significa que a vegetação tropical, hidrologia e o sistema climático na América do Sul poderia se modificar muito rapidamente para um outro estado de equilíbrio, produzindo mudanças rápidas entre a situação atual e futura (Rowell and Moore, 2000)” (IPCC 2007, Magrin et al. 2007)

O relatório de revisão da Rowell and Moore, que é citada como a base desta afirmação do IPCC (que consultou pesquisadores do IPAM e informações disponíveis website do IPAM) cita um artigo que publicamos na revista científica Nature, em 1999, como fonte para a seguinte declaração:

“Até 40% da Floresta brasileira é extremamente sensível a pequenas reduções na quantidade de chuvas. Na estação de seca de 1998, por volta de 270.000 quilômetros quadrados de floresta tornou-se vulnerável ao fogo, devido ao completo empobrecimento de água disponível e armazenada nos primeiros cinco metros de solo. Outra área de 360.000 quilômetros quadrados de floresta tinha apenas 250 mm de água disponível no solo. [Nepstad et al. 1999]” (Rowell and Moore, 2000)

A declaração do IPCC sobre a Floresta Amazônica é correta, mas as citações listadas no relatório da Rowell and Moore deixaram de fora algumas citações importantes. Nosso artigo de 1999 (Nepstad et al. 1999) estima que 630.000 km2 de florestas foram gravemente afetadas pela seca em 1998, como Rowell and Moore tinha afirmado corretamente, mas essa área representa apenas 15% da área total de Floresta da Amazônia brasileira. O relatório da Rowell and Moore não citou o artigo de 1994, também publicado na revista científica Nature, em que usamos critérios menos conservadoras para estimar que cerca da metade da Floresta Amazônia teve empobrecida grande parte de sua umidade disponível no solo durante a seca sazonal ou episódica (Nepstad et al. 1994). Após o relatório da Rowell and Moore lançado em 2000, e antes da publicação do IPCC AR4, novas evidências da extensão total da seca na Amazônia foram disponibilizadas. Em 2004, estimamos que metade da área de floresta da Bacia Amazônica tinha atingido nível inferior, ou estado muito próximo, ao nível crítico de umidade no solo quando as árvores começaram a morrer em 1998. Esta estimativa incorporou novos dados de precipitação e resultados de experimentos de reduções de precipitação na Floresta Amazônica que tínhamos realizado com financiamento da National Science Foundation E.U. (Nepstad et al. 2004). Evidências de campo do limiar crítico da umidade do solo é apresentado por Nepstad et al. 2007.

Em suma, a declaração do IPCC sobre a Amazônia estava correta. O relatório que é citado em apoio à declaração do IPCC (Rowell and Moore 2000) incorretamente atribuiu o valor de 40% para o nosso trabalho de 1999. Mas esse valor já havia sido publicado na revista Nature, e Rowell e Moore consultaram pesquisadores do IPAM antes de fechar o relatório.

(EcoDebate, 05/02/2010)


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