Os Estados Unidos vão apresentar em abril próximo a proposta de criação de um banco de combustível nuclear ao conselho da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, órgão da ONU), informa Cláudia Antunes, em reportagem da Folha de S. Paulo (a íntegra está disponível apenas para assinantes do jornal e do UOL).
A ideia é criar incentivos para que os países determinados a aumentar ou iniciar a utilização de energia atômica não busquem dominar o ciclo "tecnologicamente sensível" de enriquecimento de urânio --material que, enriquecido a 4% gera energia, a 20% pode ser usado com fins medicinais e a 90% para fabricar bombas.
A decisão foi anunciada pela subsecretária para Controle de Armas e Segurança Internacional, Ellen Tauscher, em discurso distribuído nesta quarta-feira pelo Departamento de Estado. Segundo ela, trata-se de uma mudança em relação ao governo anterior, que propusera proibir o domínio do ciclo de combustível por novos países.
Mas apenas nove países que não possuem armas atômicas, entre eles o Brasil, dominam a tecnologia, mesmo que ainda dependam, para abastecer suas usinas, dos quatro consórcios internacionais autorizados a vender combustível nuclear --um americano, um russo, um francês e um alemão-britânico-holandês.
Também nesta quarta-feira, o diretor da organização iraniana de energia atômica, Ali Akbar Salehi, revelou que negocia com o Brasil e a França uma parceria para que realizem o processo de enriquecimento do urânio iraniano --na linha do acordo assinado no ano passado com as potências e a ONU (Organização das Nações Unidas) para o enriquecimento de seu combustível nuclear em solo exterior.
Salehi explicou que o acordo ainda não foi fechado e as negociações com Paris e Brasília continuam. Caso aceitem a proposta, Brasil e França receberiam o urânio iraniano enriquecido a 3,5% e entregariam combustível enriquecido a 20%.
Citado pela agência de notícias Ilna, Salehi disse ainda que o processo de enriquecimento pode ser feito em um país do leste da Ásia. Ele não quis confirmar aos jornalistas os rumores de que o Japão está sendo estudado como opção por Teerã.
Mudança
As declarações de Salehi seguem anúncio do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, de que o país está disposto a enviar seu urânio enriquecido para o exterior em troca de combustível nuclear para fins científicos.
Ahmadinejad pareceu abrir mão pela primeira vez das condições de envio parcial que Teerã havia imposto para aceitar a troca proposta pela ONU --o que atenuaria as preocupações ocidentais de que o Irã acumule material radiativo adequado para o uso em armas nucleares.
O Irã, que nega a intenção de desenvolver armas atômicas, enviaria urânio baixamente enriquecido para ser reprocessado no exterior, e em troca receberia combustível mais enriquecido para um reator de pesquisas médicas.
Pela proposta em discussão, o Irã embarcaria 70% do seu estoque de urânio baixamente enriquecido, que seria convertido no exterior em cápsulas de combustível compatíveis para o uso no reator médico, mas inviável para o desenvolvimento de armas nucleares.
"O Irã tem a tecnologia necessária para enriquecer urânio a 20% sozinho, mas a República Islâmica não vê obstáculo algum para cooperar com os países nucleares", explicou Ahmadinejad. "No Irã, alguns dizem que se o mandarmos para fora [combustível], não nos devolverão, mas se fizerem isso, demonstrarão que não são países confiáveis", acrescentou.
"Pode levar quatro a cinco meses até recebermos o combustível. Se mandarmos nosso urânio enriquecido para o exterior e eles não nos derem o combustível enriquecido a 20% para o nosso reator, somos capazes de produzi-lo dentro do Irã", reiterou.
(Folha Online, 04/02/2010)