País é citado por Teerã como uma das opções para receber o elemento no marco de intercâmbio chancelado pela ONU
Possibilidade de um acordo entre país persa e potências foi reavivada anteontem após recuo do presidente Mahmoud Ahmadinejad.
O governo do Irã vê o Brasil como uma das possíveis escalas no enriquecimento de seu urânio no exterior, dentro da fórmula chancelada pela ONU para destravar o impasse internacional criado em torno do programa nuclear iraniano, reavivada anteontem pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad.
A possibilidade foi levantada pela primeira vez pelo chanceler iraniano, Manouchehr Mottaki, poucos dias após a visita a Teerã de seu colega brasileiro, Celso Amorim, em dezembro. Além de Brasil, Mottaki mencionou ainda Turquia e Japão.
Ontem o Brasil voltou a ser lembrado como alternativa pelo chefe da agência atômica iraniana, Ali Akbar Salehi, reforçando os sinais de que a aproximação entre Brasília e Teerã começa a se estender para a cooperação nuclear. Em visita a Israel na semana passada, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, confirmou que estará na comitiva do presidente Lula que visitará o Irã em meados de maio.
Indagado pela Folha sobre o que há em comum na agenda de defesa dos dois países, ele negou que exista interesse brasileiro em mísseis iranianos, uma área na qual Teerã tem investido pesadamente. Ontem mesmo o país testou um novo foguete, com capacidade de lançar satélites no espaço.
Mas Jobim confirmou que o Brasil se considera credenciado a desenvolver uma cooperação nuclear com o Irã. "O Brasil faz enriquecimento de urânio e tem todos os compromissos com o uso pacífico de energia nuclear", afirmou o ministro. O possível envolvimento do Brasil significaria uma mudança na proposta apresentada em outubro pela AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica, ligada à ONU).
Pela fórmula original, aceita pelas potências negociadoras (EUA, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha), o Irã enviaria 85% de seu estoque de urânio para Rússia e França, onde seria enriquecido a um nível adequado para fins medicinais, mas insuficiente para uma bomba.
Após emitir sinais iniciais de aprovação ao plano, o Irã recuou, levando os EUA a iniciar uma campanha por novas sanções contra o país.
Mas anteontem, quando o plano da ONU já parecia sepultado, Ahmadinejad disse numa entrevista que seu país está disposto a enviar seu urânio para enriquecimento no exterior. Não está claro como seria a participação do Brasil -se o país substituiria a Rússia no processo de enriquecimento do urânio ou se serviria apenas de intermediário para a entrega do material à AIEA.
O chefe da agência atômica iraniana disse ontem que o país mantém conversas com Brasil e França "e uma nação asiática", sobre a possibilidade de que forneçam combustível nuclear enriquecido a 20% para o reator experimental de Teerã.
Antonio Salgado, embaixador do Brasil em Teerã, disse não ter conhecimento de negociações "em detalhe" sobre um envolvimento brasileiro. Mas confirmou que a hipótese tem sido mencionada pelo governo iraniano, o que, para ele, "demonstra a credibilidade internacional" do Brasil.
(Por Marcelo Ninio, Folha de S. Paulo, 04/02/2010)